quinta-feira, 21 de abril de 2011

O mito da submissão mútua

 

.De Wayne Grudem. Traduzido por Kamylla Araújo. Original aqui.

Como os que buscam a igualdade entre homens e mulheres revogam a força de Efésios 5:22, “Esposas, sejam submissas aos seus maridos, assim como ao Senhor”? Simples: Eles olham apenas para o verso 21, que diz, “Estejam sujeitos um ao outro no temor de Cristo.” Então eles dizem, “É claro que as esposas devem ser submissas aos seus maridos, mas os maridos também devem submeter-se às esposas.”

O resultado disso é o que eles chamam de “submissão mútua”, “e em seu ponto de vista isto quer dizer que não há liderança ou autoridade única do marido no casamento. Eles redefinem “submissão” como "consideração, cuidado, uma atitude de amor um para com o outro, colocando o interesse da outra pessoa acima do seu próprio.”

Certamente ninguém faz objeção às idéias de consideração mútua, ou cuidado, ou amor! Elas são claramente ensinadas no Novo Testamento. Mas estas idéias são, de fato, o que o verso, Efésios 5:21, quer dizer?

Eu acredito que não. Na verdade, eu creio que a idéia de “submissão mútua” como uma interpretação de “estejam sujeitos um ao outro” em Efésios 5:21 é uma idéia terrivelmente errada. Ela só pode ser defendida se deixarmos de apreciar o significado preciso das palavras gregas para “estar sujeito” e “um ao outro”. Uma vez que esses termos sejam compreendidos corretamente, eu creio que a ideia de “mútua submissão” no casamento será vista como um mito sem qualquer tipo de fundamentação nas Escrituras.

1. O significado de “Ser submisso”

A primeira razão pela qual penso que “uns aos outros” é a melhor interpretação de Efésios 5:21 é o significado para a palavra grega hypotasso (estar sujeito a, submeter-se a). Embora alguns afirmem que a palavra pode significar “ser cuidadoso e considerar o outro; um ato de amor” (para com o outro), não há nenhuma evidência séria que mostre que no século primeiro os gregos entendiam dessa forma, pois o termo sempre implica em um relacionamento de submissão a uma autoridade.

Veja como esta palavra é utilizada em outros lugares no Novo Testamento:

* Jesus está sujeito à autoridade de seus pais (Lucas 2:51)
* Os demônios estão sujeitos aos discípulos (Lucas 10:17: é claro que o significado “ato de amor, consideração” não se encaixa aqui!)
* Os cidadãos devem estar sujeitos à autoridade dos governantes (Rm 13:1,5; Tt 3:1, IPe2:13)
* O universo está sujeito a Cristo (ICo. 15:27; Ef. 1:22)
* Poderes espirituais invisíveis estão sujeitos a Cristo (IPe. 3:22)
* Cristo está sujeito a Deus o Pai (ICo. 15:28)
* Os membros da igreja devem estar submissos aos líderes (ICo. 16:15-16; 1Pe 5:5)
* As esposas devem ser submissas aos seus maridos (Cl. 3:18, Tt. 2:5, IPe. 3:5; compare com Efésios 5:22,24)
* A igreja está sujeita a Cristo (Efésios 5:24)
* Servos devem estar submissos aos seus mestres (Tt. 2:9, IPe. 2:18)
* Os cristãos estão submissos a Deus (Hb. 12:9, Tg. 4:7).

A questão é a seguinte: Nenhum desses relacionamentos jamais foi revertido. Nunca foi dito aos maridos serem submissos (hypotasso) às suas esposas, nem o governo aos cidadãos, os mestres aos servos, ou os discípulos aos demônios. É claro que nunca foi dito aos pais que sejam submissos aos filhos! Na verdade, o termo hypotasso é utilizado fora do Novo Testamento para descrever a submissão e obediência dos soldados no exército ao escalão superior (veja, por exemplo, Josefo, Guerra de 2.566, 578, 5.309; compare o advérbio de Clemente 37:2) O léxico Liddell – Scott – Jones define hypotasso [passivo] significando “ser obediente” (pg. 1897).

É claro, a forma exata que a submissão toma, como ela funciona na prática, sofrerá uma variação enorme em relação a como ela é aplicada aos soldados, às crianças, aos servos, à igreja e às esposas. Em um casamento cristão saudável, haverá fortes elementos de mútua consulta e busca de sabedoria, e a maioria das decisões virá de um consenso entre marido e esposa.

Ser submissa envolve muitas vezes, não só obedecer a comandos ou a ordens diretas (embora às vezes inclua isto), pois um marido prefere fazer uma solicitação à esposa e buscar auxílio, discutindo com ela sobre o curso de uma ação a ser tomada (compare com Filemom 8-9). Este é, provavelmente, o motivo pelo qual Paulo usou o sentido mais amplo de “estar submisso a” quando fala às esposas, em lugar da palavra específica “obedecer” (hypakouo), que é utilizada para crianças (6:1) e para servos (6:5).

Não obstante, a atitude de submissão da esposa à autoridade de seu marido será refletida nas inúmeras palavras e ações a cada dia que refletem deferência à sua liderança e reconhecimento à sua responsabilidade pós- discussão, sempre que possível, para tomar decisões que afetam toda a família.

A despeito de todas essas diferentes formas de submissão, uma coisa permanece constante em cada uso da palavra: nunca é “mútuo” no que diz respeito ao poder; é sempre unidirecional referindo-se à submissão a uma autoridade.

Então a minha pergunta é: Porque deveríamos dar a hypotasso um significado em Efésios 5:21 que em nenhuma outra parte é mostrado como tal? Mas se hypotasso sempre significa “estar submisso a uma autoridade”, então, certamente há um mal-entendido de Efésios 5:21 em dizer que implica em “mútua submissão.”

2. O restante do Contexto

O mito da “submissão mútua” também falha na adequação ao contexto. Em Efésios 5:22-24, às mulheres não é dito que sejam submissas a todos, ou a todos os maridos, ou a outras esposas, ou a seus vizinhos e filhos. O idioma grego especifica claramente a restrição, “Esposas, sejam submissas a seus maridos (idiois andrasin).” Portanto, o que Paulo tinha em mente não era uma vaga ideia de “mútua submissão” onde todos são “considerados e respeitados” uns pelos outros, mas um tipo específico de submissão a uma autoridade: a mulher é submissa à autoridade do “seu próprio marido”.

Similarmente, não é dito a pais e filhos que sejam submissos mutuamente uns aos outros, mas os filhos devem estar sujeitos (“obedecer”) seus pais (Efésios 6:1-3), os servos devem estar sujeitos aos seus mestres (Efésios 6:5-8). Em cada caso, a pessoa que exerce a autoridade não deve estar submissa àquele sobre quem a autoridade é exercida, mas Paulo sabiamente dá orientações para regular o uso da autoridade pelos maridos (que devem amar as suas esposas Efésios 5:25-33), pelos pais (que não devem provocar em seus filhos a ira, Efésios 6:4), pelos mestres (que devem deixar de ameaçar seus servos lembrando que eles, de igual modo servem a Cristo, Efésios 6:9). Em nenhum dos casos há “mútua submissão”; em cada caso existe submissão à autoridade e uso regulado desta autoridade.

Esta clara evidência no contexto é o motivo pelo qual as pessoas não enxergaram a “submissão mútua” em Efésios 5:21 até que as pressões feministas em nossa cultura levaram as pessoas a procurar uma maneira de evitar a força de Efésios 5:22, “Esposas, sejam submissas aos seus maridos, assim como ao Senhor.” Por séculos ninguém pensou em “mútua submissão” em Efésios 5:21, pois reconhecia-se que o verso ensina que devemos todos estar sujeitos aos homens que Deus colocou em autoridade sobre nós, como maridos, pais ou empregados. Desta maneira, Efésios 5:21 era perfeitamente entendido como estar sujeito um ao outro (isto é, uns para os outros) no temor de Cristo

3. A ausência de qualquer comando dos maridos para as mulheres

Há mais um fato que aqueles que buscam a igualdade entre homens e mulheres não conseguem explicar bem quando da proposição da “mútua submissão” como compreensão deste verso. Eles não conseguem explicar o fato que, enquanto várias vezes às mulheres é dito que sejam submissas aos seus maridos (Efésios 5:22-24; Colossenses 3:18; Tito 2:5, IPedro 3:1-6)a situação nunca é revertida; nunca é falado aos maridos que sejam submissos às suas esposas. Porque isso então, se Paulo queria nos ensinar sobre a “submissão mútua”?

A ordem de que um homem deveria ser submisso à sua mulher teria sido surpreendente em uma antiga sociedade machista. Portanto, se os escritores do Novo Testamento pensavam que no casamento cristão, os maridos deveriam estar submissos às suas esposas, eles teriam que dizê-lo muito claramente, caso contrário, os cristãos mais jovens nunca teriam sabido que era isso que deveriam fazer! Mas em nenhum lugar encontramos tal ordem. É surpreendente que feministas evangélicas possam afirmar que o Novo Testamento ensina isto quando, em nenhum momento isto é ensinado.

4. O significado de “Um ao outro”

Então qual a razão que as pessoas podem dar argumentando em favor da “mútua submissão” na interpretação de Efésios 5:21? Seu argumento é baseado na expressão “um ao outro” (o pronome grego allelous). Vários intérpretes afirmam que o pronome quer dizer “todos a todos” (isto é, que deve ser exaustivamente recíproco, o que significa que se refere a algo que cada pessoa faz uma a outra). Para apoiar este ponto de vista citam-se numerosos versos onde allelous tem esse sentido: “devemos todos amar uns aos outros” (João 13:34) e “sejam servos uns dos outros” (Gálatas (5:13).

Mas aqui está um erro crucial: intérpretes admitem que por allelous significar “todos a todos” em alguns versos, deve significar em todos os versos. Quando eles admitem isso, eles simplesmente não fizeram seu dever de casa - eles não checaram as possibilidades que a palavra pode ser utilizada em distintos contextos, quando não significa “todos a todos”, mas “uns aos outros.”

Por exemplo, em Apocalipse 6:4, “e que os homens se matassem uns aos outros” significa que alguns matariam outros (e não “que todas as pessoas matariam umas às outras”, ou “então que toda a pessoa que foi morta mataria mutuamente aquela que a matou”, o que não teria o menor sentido!). Em Gálatas 6:2, Levai as cargas uns dos outros, não significa que cada um deve trocar a sua carga com o outro, mas “aqueles que são mais capacitados devem ajudar a carregar o fardo daqueles que são menos capacitados.” Em 1 Coríntios 11:33, “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros.” Significa “aqueles que ficaram prontos mais cedo devem esperar por aqueles que estão atrasados.”

Há muitos outros exemplos onde a palavra não pode simplesmente dizer que "todo mundo faz alguma coisa para todo mundo", porque o sentido do contexto simplesmente não permitirá este significado (veja Mateus 24:10; Lucas 2:15; 12:1; 24:32; etc.). Nestes versos allelous significa, uns aos outros. (A versão King James frequentemente traduz estas passagens, “um ao outro” ou “um para o outro”, como em I Coríntios 11:33, Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros.” Seguindo este padrão, a KJV traduziu Efésios 5:21, “submetendo-se um ao outro.”)

5. Conclusão

O que então “um ao outro” significa em Efésios 5:21? Significa “uns aos outros” e não “todos a todos”. O significado de hypotasso, que sempre indica submissão unidirecional a uma autoridade, previne o senso de “todos a todos” neste verso. E o seguinte contexto (esposas a maridos, filhos aos pais, servos aos mestres) mostra que este entendimento é verdadeiro. Portanto, não é a “submissão mútua”, mas a submissão às autoridades competentes que é ordenada por Paulo em Efésios 5:21. A ideia de “mútua submissão” nesta passagem é só um mito crido largamente pelo mundo.

Isso é importante? Basta perguntar-se quão importante a idéia de submissão à autoridade é no Novo Testamento. Se hypotassō pode ser esvaziada de qualquer idéia de submissão à autoridade, a capacidade do Novo Testamento para falar com a nossa vida vai ser entravada de forma significativa. Este equívoco igualitário de Efésios 5:21 carrega com ele um preço muito grande.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário