Ainda em seu início, a psicanálise de Freud foi acusada de promover a libertação do homem de seus instintos animais reprimidos, provocando com isso uma catástrofe de dimensões imprevisíveis.
Uma acusação dessa natureza leva-nos a uma constatação, no mínimo, reveladora: a pouca confiança que o ser humano deposita na moral, que é particularmente enfatizada pelos cristãos legalistas.
De fato, a psicanálise pode tornar conscientes todos os instintos animais inconscientes. Não, porém, para deixá-los soltos numa libertinagem sem freios, mas para integrá-los, harmoniosamente, na personalidade.
No entanto, mesmo que desconsiderássemos isso; sob quaisquer circunstâncias, seria sempre uma vantagem poder dominar, pelo conhecimento consciente, esses instintos.
Caso contrário, seus conteúdos reprimidos apareceriam em outro lugar ou outro momento, como um estorvo, como uma excrecência.
Isso representaria uma pedra dentro do sapato, pois tal estorvo apareceria (como de fato aparece), não em áreas secundárias; mas, precisamente, nos pontos mais nevrálgicos e vulneráveis da psiquê. Isso explica, por exemplo, o fato "daquela pessoa tão santa e piedosa" cair, de repente, no mais grosseiro pecado sexual.
Melhor, então, como aludimos, ser educado pela psicanálise.
As pessoas, quando educadas para enxergarem o lado feio e sombrio de sua natureza, aprendem também a lidar com esse lado, aceitando-o e compreendendo a sua dinâmica.
Isso fará delas seres humanos menos egoístas e menos hipócritas; o que resultará num bem, uma vez que a diminuição do egoísmo e da hipocrisia fará com que elas deixem de projetar nos outros a falta de respeito e a violência que tinham para consigo mesmas, antes de chegarem ao nível do autoconhecimento.
É a isso que, na linguagem bíblica, chamaríamos de "amar o próximo".
De qualquer forma, o fato de ainda trazermos dentro de nós "o velho Adão" redunda na realidade de que teremos sempre que lutar contra a sensualidade exacerbada.
A certeza que temos é que o erotismo sempre foi e sempre será um problema controvertido, independentemente de quaisquer leis ou princípios adotados, uma vez que pertence à natureza animal do homem.
Paradoxalmente, no entanto, esse mesmo erotismo está ligado às mais altas formas de espiritualidade (quando um homem se une sexualmente com uma mulher serão ambos "uma só carne"). Ora, essa é uma união não apenas carnal, mas também espiritual.
Logo, é preciso que haja um equilíbrio entre o erótico e o espiritual pois, somente assim, a comunhão do casal será completa e realizadora.
Se esses dois elementos (erotismo e espiritualidade) não estiverem harmônicos, haverá um dano por causa da unilateralidade e o resultado, fatalmente, será doença emocional.
Concluindo, podemos afirmar, então, que o excesso de animalidade deforma o homem espiritual enquanto que o excesso de espiritualidade cria animais doentes.
Mais uma vez, portanto, voltamos à verdade do antigo filósofo: "in medium virtus", ou seja, "a virtude está no meio".
No que tange à sexualidade, como nas outras questões da vida, essa virtude está no equilíbrio e na sensatez, razão pela qual qualquer tipo de extremismos deve ser rechaçado.
"Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1. Pe. 5.8).
Tony Ayres
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