sábado, 15 de outubro de 2011

Adultério: Pecado que assusta as igrejas e destrói famílias



O adultério, a infidelidade, não é um mal visto apenas no mundo. Entre o povo evangélico já é possível enumerar vários casais que viveram ou estão vivendo esse pecado. Uma pesquisa realizada em 10 países por uma escritora americana mostra que 12% da população do Brasil é infiel ao parceiro(a). A pesquisadora Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, traçou o perfil da sexualidade dos brasileiros e revelou que nada menos que 50% dos homens e 25% das mulheres já traíram pelo menos uma vez numa relação estável, de confiança.
Essa realidade de traição, infidelidade e até promiscuidade, assusta e atormenta inclusive casais cristãos, que cada vez mais têm se deparado com essas situações em suas vidas.
Mas o que leva uma pessoa casada a envolver-se com outra que não seja o seu cônjuge? As diferenças de pensamento, a insatisfação sexual, a falta de tempo para a família, as influências do mundo e, sobretudo, o esfriamento da dependência de Deus são algumas das causas apontadas. Vale destacar que homens e mulheres têm “fraquezas” diferentes: um é mais físico, o outro emocional. É nesse ponto que muitos casais não se entendem.
No livro “A Batalha de Toda Mulher”, a autora Shannon Ethridge aponta que os homens desejam intimidade física, dão amor para conseguir sexo, são estimulados pelo que vêem, o corpo pode desligar-se da mente, do coração e da alma, eles têm ciclos recorrentes de necessidades físicas e são vulneráveis à infidelidade na ausência de toque físico. Já as mulheres desejam intimidade emocional, fazem sexo para obter amor, são estimuladas pelo que ouvem, têm o corpo, mente, coração e alma interligados, têm ciclos recorrentes de necessidades emocionais e são vulneráveis à infidelidade na ausência de ligação emocional.
A pastora Norma Lucia Santos Raymundo, especializada em sexologia clínica, relata que no casamento é preciso sempre perguntar: “Estou fazendo meu marido/esposa feliz?”. “Este é o cuidado necessário. É preciso notar que há diferenças reais entre homens e mulheres. Para ela, a relação sexual é conseqüência de toda a vivência que envolve afetividade. Já o homem aprecia o envolvimento físico sexual, e a afetividade vem como conseqüência. Quando os cônjuges não suprem essas necessidades específicas, ficam vulneráveis a buscar este suprimento em outras pessoas, ou até mesmo em outros projetos de vida. Os casais precisam conversar sobre suas necessidades físicas e emocionais, assim como fazer investimentos para estarem mais juntos, criando afinidade e cumplicidade, afastando qualquer brecha para a quebra da aliança, como,por exemplo, a infidelidade”, relata.
Quando o limite é ultrapassado e uma traição é concretizada, os primeiros que sofrem são os membros da família. A relação entre marido e esposa piora, mesmo o pecado ainda não sendo revelado, e o trato com os filhos também é alterado. A mentira fica latente e cada vez mais freqüente. Os sentimentos de culpa e de desconfiança também são notados.
“Quando um casamento acaba por causa de um adultério, os filhos saem marcados, o cônjuge traído também. Se for cristão, o Evangelho é envergonhado e as perdas são irreparáveis. Nenhuma outra dor é maior. A traição é uma flecha que atravessa a alma”, declara o pastor Josué Gonçalves, terapeuta familiar e pastor sênior do Ministério Família Debaixo da Graça, da Assembléia de Deus em Bragança Paulista, São Paulo.
 
Causas da Infidelidade
Afastamento de Deus, da sua palavra e da igreja.
Imaturidade emocional
Insatisfação na vida sexual ou emocional
Influência do mundo
Internet e televisão
Dificuldades financeiras
Falta de investimento na relação
Problemas de relacionamento

e-infidelidade, a internet a favor da traição
Nas revistas, nos jornais, nos programas de TV e nas novelas a gama de material sensual, de conteúdo promíscuo, de culto ao corpo, de supervalorização do sexo, abrem brechas enormes para os primeiros passos do pecado da infidelidade. Um vilão mais recente é a internet, que divulga imagens de sexo e proporciona conversas desinibidas em salas de bate-papo, propiciando que aquelas frustrações com o marido/esposa sejam deixadas de lado por uma ilusão de que tudo pode ser diferente com o amigo ou amiga virtual.
Numa das palestras proferidas pelo reverendo Nivaldo Schneider, da Congregação Evangélica Luterana Paz, no Ibes, em Vila Velha, ele fala justamente sobre a “e-infidelidade” (a infidelidade que usa a internet como canal) e destaca uma frase que hoje já é muito ouvida: “Trair e teclar é só começar”. Para o pastor, a internet criou uma nova forma de infidelidade. “Começa com a troca de mensagens eletrônicas, o envolvimento vai crescendo e estabelece-se um vínculo íntimo. Tem todos os ingredientes de um caso extraconjugal. Em 60% dos casos a infidelidade sexual virtual termina em sexo real”, alerta.
Para o pastor Ashbell Simonton, “quem busca erotismo na internet maltrata o casamento, pois compara injustamente o cônjuge com aquele apresentado no material pornográfico, produzindo o desinteresse sexual dentro do casamento, levando conseqüentemente à traição.
Tenho ouvido muitas histórias reais de pessoas fiéis que destruíram o casamento por causa de uma sala de bate-papo, orkut e sites de relacionamentos”, relata.
Já o pastor Sandro Santoro, da Primeira Igreja Batista de Vila Batista, em Vila Velha, afirma que muitas vezes a simples pergunta “Como foi o seu dia?” pode fazer surgir um interesse na pessoa que inicia uma conversa em um chat quando em casa esse cônjuge não recebe a atenção que queria. “O conteúdo online traz à realidade sonhos virtuais e mentiras, e isso pode virar uma compulsão”, disse Santoro, que é mestrando em Terapia de Família.

Como a igreja aborda o assunto
Falar sobre traição nas igrejas é ainda um tabu e, enquanto casais destróem seus casamentos, líderes muitas vezes preferem fingir que nada está acontecendo. Muitas das vezes, por total falta de instrução. Faltam pastores e líderes de casais com maturidade espiritual e até conjugal para falar sobre o assunto. Essa é a análise do pastor americano Jaime Kemp, diretor da Sociedade Religiosa Lar Cristão, e um dos pioneiros no trabalho com casais e famílias no Brasil.
“O pastor tem que ser um detetive nesses problemas de casais. Ele precisa identificar a dificuldade, mas o grande mal é que não sabe fazer isso, porque no seminário aprendeu apenas a realizar casamento, mensagem, funeral. Quando se fala sobre traição, o pastor passa creme em cima do câncer, quando é preciso cirurgia para extirpar a doença. A falta de instrução impede a solução dos problemas, aliada ao fato de 50% dos pastores terem sérios problemas conjugais ou com os filhos. Infelizmente, essa é uma realidade, e estamos vivendo uma epidemia de divórcios nos púlpitos. Se os pastores estão com problemas graves, não são exemplo. E como a igreja vai caminhar?”, revela e questiona Jaime Kemp.
Ele contou que recebe dezenas de casais por semana em seu escritório, em São Paulo, e nas crises conjugais a infidelidade é um dos maiores problemas. Mas, buscando ajuda em um pastor, em um conselheiro familiar ou algum casal com casamento firme é possível conciliar. “Já recebi a esposa de um pastor que chegou desesperada contando que durante uma madrugada acordou e não viu o marido na cama. Ao procurá-lo pela casa, viu que ele estava na internet assistindo a vídeos pornográficos. Isso é realidade e, mesmo que não tenha ocorrido contato físico, já é traição. A Bíblia diz ‘que qualquer que olhar com mente impura para uma mulher, já em seu coração cometeu adultério com ela’ (Mateus 5:28). A infidelidade é um problema terrível”, disse Kemp.
A igreja, em casos de traição, precisa ser um ponto de apoio, e não de inquisição. Assim como entre os cônjuges, a igreja deve tratar o assunto com carinho, diálogo, conciliação e perdão. A mulher e o homem precisam ser ajudados, e não rotulados, incluídos e não excluídos, amados e não discriminados. Segundo o reverendo Simonton, atualmente em apenas 27% das igrejas evangélicas há ministério específico para divorciados, solteiros e viúvos. “São necessárias ações mais profundas, que restaurem a dignidade humana e a capacidade de servir ao Senhor”, destacou.

Conseqüências da infidelidade
Sentimento de vingança
Baixa auto-estima
Culpa
Esfriamento sexual
Depressão
Dificuldades na criação dos filhos
Vergonha
Mentiras
Cobrança da igreja e da sociedade
Desespero
Inércia diante da situação
Perda da confiança nas pessoas
Problemas financeiros
Doenças sexualmente transmissíveis

Existe saída: o perdão, o amor e o diálogo
É pensando no perdão e na restauração do casamento que trabalha o Ministério Casados Para Sempre, que no Espírito Santo tem como coordenadores regionais o casal Ubiracy e Luzia Arnulfo da Fonseca, da Igreja Evangélica Batista de Vitória. São oferecidos cursos até mesmo para noivos, para mostrar a realidade vivida em um casamento e como enfrentar as dificuldades.
“Hoje a liberalidade da pornografia lida, vista e falada; a promiscuidade nos relacionamentos; e a televisão, a internet, as revistas, oferecendo condições, circunstâncias e oportunidades para a libertinagem, contribuem para a degradação do bem mais precioso para Deus, que é a família. Tem-se visto muitos casais, mesmo estando no meio cristão, praticando a traição. Dessa forma, o inimigo de Deus tem atacado muito ferozmente os casamentos e, por conseqüência, há muitas separações. Entretanto, nosso Senhor não desiste do homem, e tem dado ferramentas para utilização das igrejas. Satanás sabe que famílias fortes significam igrejas fortes e por isso tenta destruí-las”, afirma Ubiracy.
“O maior problema dos casamentos que terminam em divórcio é que não levaram em conta o que Deus fala sobre o assunto. O plano original de Deus para o casamento não incluía separação ou divórcio. Deus quer as famílias estruturadas”, destaca Luzia.
A pastora Norma, que é da Igreja Apostólica Brasileira, em Jardim Camburi, Vitória, aponta alguns passos para a restauração dos laços conjugais após um caso de infidelidade. É preciso primeiro perdoar, e o cônjuge que caiu em pecado deve pedir perdão a Deus, perdão ao companheiro(a) e a si mesmo. Em seguida, precisam decidir se há disposição para permanecer juntos e quais os investimentos necessários para a restauração deste casamento.
Além dessas análises e decisões, é preciso mudança de comportamento. O pecado confessado é perdoado, mas haverá as conseqüências deste erro, e o casal vai necessitar de acompanhamento, que pode ser realizado por seus líderes, ou por profissionais idôneos.
“O diálogo é imprescindível, por isso o casal não pode excluir Jesus do centro deste relacionamento. A rotina também não pode tomar conta. Casal precisa sair sozinho para passear, conversar. É claro que, mesmo havendo uma reconciliação, houve pecado, e Deus diz que há conseqüências. Cada caso deve ser analisado separadamente, mas a pessoa que traiu vai ser movida pelo Espírito Santo para expor a situação. Se não fizer, vai viver sob tensão, sob a sombra de um fantasma, sem paz”, afirma a sexóloga.
Ninguém deve se iludir achando que Deus vai deixar de lado esse pecado. Todo pecado tem conseqüência, assim como está escrito em Gálatas 5:19-21: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.”
O pastor Jaime Kemp destaca a importância do acompanhamento de líderes de casais no momento da reconciliação, e diz que reconquistar a confiança da pessoa traída é o grande trabalho a ser feito. “Isso pode demorar de um a dois anos, por isso deve haver na igreja um ministério bem estruturado para casais, que se baseie profundamente no perdão e no relacionamento com Deus”, disse.
Mas o que acontece com uma pessoa que não consegue perdoar o cônjuge que a traiu? O perdão não é obrigatório, e muitos maridos e esposas não vão conseguir conviver com o outro sabendo de uma traição no passado. Nesses casos, é preciso avaliar a questão da separação, do divórcio. Segundo o pastor Sandro Santoro, a pessoa traída, se não exercer o perdão, pode sofrer conseqüências emocionais, além de espirituais.
“Ela vai ter complexo de inferioridade, porque, muitas vezes, acaba colocando a culpa em si própria, e será atacada por uma confusão de sentimentos, não mais conseguindo discernir o que é amor, carinho. Vai achar que todo mundo agora vai traí-la e por isso vai ter dificuldades em confiar novamente em alguém. O perdão é voluntário e a Bíblia diz que aquilo que você perdoar será perdoado”, disse o pastor.
Como é maravilhoso ver problemas que até então pareciam sem solução serem transformados e resolvidos, mas isso só é possível com a graça do Pai. Deus exige fidelidade no casamento e a colocou na lista dos frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, mansidão, domínio próprio e fidelidade. Há deveres conjugais a serem cumpridos, conforme o apóstolo Paulo descreve em Efésios capítulo 5, mas há também a promessa de que “o amor cobrirá a multidão de pecados” (I Pedro 4:8). Deus quer famílias firmes, casais que amem e saibam perdoar.
O diálogo, a constante doação, o respeito, o investimento no relacionamento, a confiança no Pai e a busca de forças para vencer as tentações, orando e estudando a Palavra de Deus, são ações preventivas que os casais devem adotar para evitar o pecado da infidelidade. É preciso lutar pelo casamento e terapeutas de casais já afirmam: “Casamento não é coisa para preguiçosos”. É um doar-se diário, buscando sempre a sua alegria na alegria do outro e exercendo o amor a todo tempo, como orienta a Bíblia.

Números da infidelidade no Brasil
Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo mostra que um dos menores índices de infidelidade é o do Paraná, mas é onde 43% dos homens já traíram. Em São Paulo, 44%. Em Minas Gerais, 52%. No Rio Grande do Sul, 60%. No Ceará, 61%. Os baianos são os campeões: 64% dos homens se dizem infiéis.
Freqüência de relacionamento extra (“caso”) entre 3.106 mulheres de diferentes estados brasileiros:
Paraná: 19,3%
Pará: 20,3%
Santa Catarina: 23,3%
Mato Grosso do Sul: 23,6%
São Paulo: 24,1%
Bahia: 25,2%
Pernambuco: 26,5%
Ceará: 26,7%
Goiás: 27,7%
Minas Gerais: 29,5%
Rio Grande do Norte: 30,2%
Rio Grande do Sul: 31,7%
Rio de Janeiro: 34,8%
Prevalência de “caso sexual” entre 6.846 participantes da pesquisa:
Homens que admitiram ter “caso sexual”: 50,6%
Mulheres que admitiram ter “caso sexual”: 25,7%

Fonte: “Descobrimento Sexual do Brasil – Para curiosos e estudiosos”, da Professora doutora Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Revista Comunhão / Portal Padom

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