Por Jáder Borges
Algumas orientações para pais sobre televisão, computador, games e facebook.
Muitos
pais me perguntam sobre "qual é a idade certa" para seus filhos terem
acesso a games, programas de televisão, facebook, etc. Eu procuro
responder que não existe uma idade certa, mas sim uma atitude certa dos
pais para com tudo isso.
Vivemos
em uma sociedade massacrante, na qual televisão, games e facebook acabam
sendo um grande escape para pais, que, pelo menos, têm os seus filhos
em casa e entretidos, quando estão atuando em seus locais de trabalho,
ou quando trazem trabalho para resolver em casa (infelizmente) e os seus
filhos continuam entretidos com tudo isso, mas em casa, deixando-os
pelo menos trabalhar em paz. Mas, PAZ? Terá mesmo paz, pais que agem
dessa forma? Pais que pensam assim?
Creio
que a Primeira Infância é muito importante para a criança com relação
aos seus pais: aproximação, segurança, confiança, autoridade e proteção.
Tudo isso, vejo como presente de Deus aos pais para começarem a
conquistar seus filhos, quando estes ainda são pequenos e por toda e
para toda a vida. A primeira parte da considerada 'Primeira Infância1 'é
até fácil, do ponto de vista dos desafios da criação: fixemos por um
pouco naquela 'idade do bebê'. Muitos pais não têm dificuldades com
isso, de tomar tempo, dedicar tempo, carinho, amor a uma criança nesta
fase da primeira infância, por motivos que vão desde a linda e querida
novidade (afinal, quem não gosta de ter um bebê em casa?) até as
pequenas coisas de um bebê que encantam, como um sorriso 'que vale o
dia' e o balbuciar das primeiras palavrinhas e sons. Bebês têm algumas
questões que não exigem tanto dos pais em outras áreas: crianças de colo
não falam [tanto] ainda (e por conseguinte, não perguntam); não andam
(e exigem a sua companhia todo o tempo, para não cair, para não meter o
dedo na tomada...), ainda não ligam para games e televisão (por eles,
que ainda não sabem o que é isso, a tv pode passar o dia todo
desligada). E bebês dormem bastante (um momento de descanso e até de
alívio para os pais). Nesta fase da primeira infância, eu diria: os
bebês não dão 'problemas eletrônicos e tecnológicos'. E neste quesito,
obedecem muito bem. Vocês podem desligar a tv a qual estiverem
assistindo (até a famosa Galinha Pintadinha, por exemplo) e substituí-la
por uma banana lambuzada em um pouco de mel. Se vocês pais fizerem
"aquele estardalhaço" para atrair a atenção da criança de seus um ano e
seis meses, para a banana lambuzada em mel, esta 'nova e curiosa
atração' poderá até ganhar da galinha pintadinha. Nunca fiz este 'teste'
(até porque não tenho mais bebês em casa), mas desconfio que a banana
lambuzada em mel seja um páreo duro para a Galinha Pintadinha.
O tempo passa muito rápido...
Mas tem,
pelo menos, duas coisas que os pais de bebês esquecem, ainda dentro da
janela da primeira infância: uma, é que bebês crescem e progridem nas
suas vontades pessoais (e algumas são bem fortes!). Outra, é que bananas
lambuzadas em mel enjoam. A Galinha Pintadinha atrai! É no início da
segunda fase da primeira infância (2 e meio, 03 anos...), quando o seu
menino, a sua menina, não é mais 'tão bebê'', que começará a perceber
rapidamente que tem um mundo fascinante de cores, luzes, cliques, que
abrem a janela para o mundo inteiro! E aí, não tem banana lambuzada em
mel que consiga frear este avanço ou desviar a sua atenção. Só quem
consegue controlar bem são os pais. Por isso, algumas dicas LOGO CEDO
para pais que não querem ver seus filhos contaminados e até viciados em
eletrônicos pelo resto da vida. Creio firmemente que aquilo que a
criança aprender, ela levará consigo pelo resto da vida (Pv 22.6).
Então, vamos lá. Vamos a algumas dicas simples e práticas que, se bem
conduzidas, poderão servir de princípios e valores para os seus filhos.
1. Não deixem as crianças expostas à tv.
Com o advento da tv a cabo, existem hoje canais 24 horas dedicados às
crianças e especializados em atraí-las e entretê-las, isto sem falar na
vasta programação em outros canais mistos, que procuram ter a atenção de
crianças de todas as idades. Ou seja: a exposição é grande, o aceso é
fácil, mas também, as propostas são muitas, deformantes e tantas delas
são mesmo cruéis. E o que o seu filho recebe logo cedo, ele não filtra.
Engole. E aí, o que lhe passam, tantas vezes, não é mesmo saudável e
deforma. Deforma o corpo, a mente e até o caráter. Será a vez do que eu
chamaria, infelizmente, do "lixo com mel". Sua criança brasileira é uma
das mais expostas à tv no mundo, sabia?! A Eurodata TV Worldwide2
(Francesa) fez uma pesquisa e constatou que a criança brasileira passa,
em média, 3 horas e 31 minutos por dia na frente de um aparelho de
televisão. As crianças de hoje estão crescendo vítimas (não encontro
outra palavra) de uma exposição ao consumo em massa. E o que isto poderá
acarretar? Entre outras coisas, a insaciabilidade e o egoísmo que busca
satisfação, dominando a mente de uma pessoa ainda tão jovem. Isso
porque, a cultura do consumidor desses dias modernos [demais] tornou-se
impessoal, no sentido de que as mercadorias são produzidas para um
mercado de massa e não para indivíduos específicos, e também porque é
universal, pois, em princípio, todos nós somos livres e iguais e podemos
adquirir o que quisermos, conquanto sejamos levados a "ter que
adquirir" tudo o que eles divulgarem, pois isto tornou-se caráter e
consciência universal: "todos [na escola] têm, eu tenho que ter. Todos
[na escola] são, eu tenho que ser".
Nesta
onda do consumismo moderno, procura-se mais a gratificação da emoção e
do desejo do que a satisfação de suas necessidades. Acredita-se no
caráter individualista, em que os indivíduos decidem por si mesmos que
bens e serviços desejam obter, e se conseguirem cativar uma mente
infantil para este rumo, então, haverá mais um consumidor voraz na
praça. Para tal consumidor, a insaciabilidade dos consumidores que
caracteriza esta sociedade será a sua marca também. Assim, quando um
desejo ou uma "necessidade" é satisfeita, outra "necessidade" já se
achará à sua espera. A permanência de um sentimento de insatisfação e de
um "eterno querer mais"; a existência de uma insaciabilidade para com
novos produtos poderá agarrar a mente do seu filho, distorcê-la e não
largar mais. Nestes nossos dias, a atividade fundamental do consumo não é
a seleção, a compra ou o uso dos produtos, mas a procura do prazer
imaginativo a que a imagem do produto empresta, sendo o consumo
verdadeiro, em grande parte, um resultado desse hedonismo da mente: só
serei feliz se tiver!
Então,
enquanto os seus filhos ainda são pequenos... a) regulem bem a tv em sua
casa. Que o controle do aparelho esteja na sua mão, pai/mãe, porque no
dia que o controle remoto for parar na mão da criança, ela não largará e
não entregará mais, a não ser com muito custo e brigas. DETERMINEM os
programas e a quantidade dos mesmos que o seu filho poderá assistir.
Lembrem-se: desde a fase do bebê que a autoridade na sua casa é de
vocês. Não percam este privilégio e esta oportunidade de educarem bem
uma vida. E por causa disso (da perda da sua autoridade), vocês também
darão contas a Deus. b) tv só depois do dever. Ou seja: que a criança
brinque, pinte, desenhe, brinque com a boneca (menina), com os carrinhos
(menino)... tudo bem, mas deverá fazer toda a tarefa de casa antes. E
depois vem a TV, os desenhos e programas que vocês já devem combinar bem
com as crianças quais e quantos seriam. Modernos aparelhos de tv têm
como gravar, então, a criança não perderá o programa. Também, muitos
lares têm aparelhos de DVD que gravam. No máximo (caso não disponham
desses recursos tecnológicos) que a criança assista só àquele episódio
ou período, e depois a tv é desligada e as obrigações que eles devem ter
são continuadas e cumpridas. E se não for assim, se não houver sadia
correspondência da parte da criança, que se perca a tv. "Quem obedece
ganha. Quem desobedece, perde". Esta é uma das regras daqui de casa
desde o tempo em que as meninas eram bebês. E elas aprenderam bem.
2. Games
(já para quando eles forem maiorzinhos). O mesmo princípio: a)
estipulem, vocês pais, horários e tempo de jogos. b) vão à loja comprar o
game com eles e procurem saber de tudo o que for possível sobre o game.
Se julgarem que não é bom (veja, 1 Co 6.12; 10.23), ou seja, se for
dominar o seu filho, ou se não edificar, não comprem. A moda de um game
passa. Já as deformações que ele poderá causar no seu filho, ficam.
Então, se o seu filho confia em vocês e sabe que vocês querem o melhor
para ele (sim, que ele saiba disso por demonstrações de cuidado, carinho
e conversas), ele entenderá. c) pesquisem sobre o game. Entrem na
internet, acessem via Google tudo o que puderem sobre o tal jogo.
Avaliem por ali. d) peçam informações a um adolescente ou jovem que
conhece o game e vá colhendo e tirando conclusões. e) joguem com ele ou
acompanhem as sessões e fases do jogo. f) estipulem quantos games vocês
terão em casa. Assim, ele mesmo terá que selecionar bem, pois as
escolhas são muitas, mas o resultado final para ele será limitado a um
certo número.
3. Internet e computador
- Também o mesmo princípio. a) estipulem horários e que estes horários
estejam de acordo com todo o tempo que eles têm para: ver tv, jogar
games e navegar na internet. b) nada de computador no quarto do filho!
Nada! Computador em sua casa deve ser uma peça de pesquisas e ferramenta
de auxílio, então, deixem o mesmo em local central e bem visível. Em
dias modernos [demais], tudo o que não presta entra via internet, então,
quanto menos chance você der a um bandido que poderá tentar seduzir os
seus filhos, ou mesmo a ação de pessoas com mentes ímpias de tentarem
influenciá-los por maus caminhos e costumes, melhor para todos da sua
família que isto seja imediatamente percebido3. c) coloquem, vocês pais,
a senha no computador da casa. Não abram mão disso. Assim, quando o seu
filho quiser navegar um pouco, terá que pedir a sua presença para
'abrir' o computador. Aos filhos que já são maiores (adolescentes, por
exemplo) e que já dominam bem o assunto, afirmo que eles têm a obrigação
de falar a senha pessoal para os seus pais. d) examinem sempre o
histórico de navegação dos seus filhos. Sempre. Não é desconfiança. É
cuidado e proteção.
4. Facebook e outras redes sociais
- Também incentivaria os mesmos princípios para o uso da internet. Se
eles já tiverem idade para terem acesso a estas redes (porque, há idade
legal para tanto. Criança não pode e nem deve, pelas leis), que vocês
pais também tenham uma página nas mesmas redes sociais e que os seus
filhos os adicionem como participantes. Só dessa maneira e pronto.
Assim, vocês poderão ver bem o que se passa e também quem são os amigos
dos seus filhos e o que estes falam. Na abertura deste texto, escrevi a
palavra "pequenos", utilizando-me de um símbolo famoso no facebook, que é
o de "curtir". O fiz, invertendo o mesmo para que parecesse com a letra
"P". Mas ao mesmo tempo, quero dizer: o facebook só tem "curtir". Mas
tem muita coisa lá, como nas demais redes sociais e na internet, que não
dá mesmo para curtir. Que os nossos filhos, aprendendo conosco desde
pequenos as diretrizes, bases, valores e conceitos ao longo da jornada,
sejam eles mesmos os que irão dizer: "poxa, não dá para curtir isso, não
é o que eu aprendi com os meus pais. Desligo ou deleto".
Poxa,
pastor! Quantas coisas e quantas limitações, não? Sim, reconheço. Mas,
em um mundo que vai se tornando cada vez mais pós-cristão e cada vez
mais anticristão, que desdenha da Palavra de Deus, eu não vejo outro
meio de salvaguardar a mente dos nossos filhos, que estão crescendo
neste mundo mau e recheado de facilidades para o mal, que a clara
apresentação de regras e limites. E se as regras, os limites e o
acompanhamento sadio ocorrerem logo cedo e desde sempre, os seus filhos
crescerão se acostumando com tudo isso. E sempre irão acreditar no amor e
no cuidado de seus pais por eles, porque ouvirão as regras, crescerão
com elas e verão que as mesmas são acompanhadas e mantidas com bom
discernimento e equilíbrio (dos pais), manifestadas em santa e boa
coerência quanto ao seu desenvolvimento e cumprimento (dos filhos). E,
uma vez aprendidas lições, a própria criança perceberá isto e se
contentará: o meu pai e a minha mãe me amam e cuidam de mim. Que seja
isto que os nossos filhos levem pelo resto de suas vidas.
_______________________
Notas:
1 - Estudiosos consideram a "Primeira Infância" a fase que vai desde a concepção até os 5, 6 anos de vida.
2 - Fontes: http://jus.com.br e http://www.ufscar.br/rua/site/?p=2510
3 - A cada 15 segundos, no Brasil, uma criança é abusada sexualmente.
-
Sobre o autor: Jáder Borges Filho é pastor da Igreja Presbiteriana do
Jardim Satélite, em São José dos Campos (SP), e foi secretário geral do
Trabalho com a Infância da IPB (2006-2010). Estudou no Seminário do
Recife e na Theologisches Seminar Ewersbach, na Alemanha. Promove o
Congresso Infantil Primeiros Passos, voltado para quem trabalha com
crianças, EBD e departamentos infantis.
Fonte: Editora Fiel
Nenhum comentário:
Postar um comentário