“… tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas.” Romanos 1:21-26a
Como consequência de trabalhar numa editora, sempre que entro numa
livraria os olhos analisam de tudo: capas, títulos, assuntos etc.
Recentemente dei de cara com uma estante dedicada a uma só obra,
“Cinquenta tons de cinza”. O nome não me era estranho; já o tinha visto
em algumas manchetes do Globo. Fiquei curioso quando ouvi dizer que esse
livro se tornou um recordista de vendas, batendo inclusive Crepúsculo e
Harry Potter (se não me engano). Como bom membro da atual geração, fui
buscar a fonte mais confiável de pesquisa dos nossos tempos: Wikipédia.
Li a sinópse rapidamente para ter uma ideia do que se tratava esse
fenômeno de vendas.
O livro descreve a relação sexual sadomasoquista de um jovem
empresário com uma jovem estagiária. Para que haja consenso entre as
duas partes, o empresário produz um contrato a ser assinado pela jovem
descrevendo as suas preferências sexuais, seus hábitos e aquilo que ele
gostaria de fazer com ela e que ela fizesse com ele. Desde chicotes a
algemas, a coisa é da mais sórdida e grotesca natureza possível. Por
favor não pesquise mais sobre o assunto. É algo que faz meu estômago
embrulhar, só na página do wiki. Essa é a sensação literária do momento,
uma abordagem de sexo violento.
Ligo o rádio, música nova do Seu Jorge. “Ela é amiga da minha mulher,
pois é, pois é. (…) Ainda por cima, é uma tremenda gata, pra piorar a
minha situação. Se fosse mulher feia tava tudo certo, mulher bonita mexe
com meu coração.” Caramba. Uma outra, em inglês, não foge muito disso
não. O Usher basicamente fala que se a moça quiser gritar, é simples,
basta deitar e ele a leva para lá e dá para ela o que tanto quer (‘lá’
sendo um local indefinido que não precisa ser explicado). Isso tudo,
claro, envolvido numa batida hipnotizante.
James Bond! Filme novo, carro novo, ternos caros, tiroteio, mulheres
lindas. Ainda não assisti, mas já imagino que vá rolar alguma clima
tórrido entre ele e uma moça (no mínimo uma).
Violência, adultério, sexo sem compromisso… e olha que eu nem falei da última novela das oito.
Todo “bom” programa de auditório (isso existe? Bom programa de
auditório?) tem lá seu apresentador charmoso, público sorridente com uma
fileira de mulheres lindas na primeira fila e as dançarinas ou
ajudantes de palco seminuas. Obviamente, são lindas. Propaganda de
cerveja é na praia, com mulheres de biquíni. Comercial do desodorante
Avanço é o que? (Ainda existe desodorante Avanço?) Elas avançam. Isso
sem mencionar o desodorante Axe.
Nos shoppings, as vitrines estampam mulheres lindas vestindo as
últimas modas. Beirando o verão, está faltando pano demais nas coleções.
As saias e blusas são embaladas a vácuo e os decotes são fartos. E olha
que isso não se restringe às lojas de roupas para adultos. As crianças
não ficam para trás. E a maquiagem? Lábios carnudos e vermelhos que
brilham. Ao redor dos olhos, um lápis preto carregadíssimo que realça o
olhar. De acordo com um professor de biologia do colégio, tal tipo de
maquiagem é uma tentativa da fêmea expor suas características sexuais,
afinal, a excitação sexual leva a um aumento na circulação sanguínea
(lábios mais vermelhos) e pupilas dilatadas (olhos marcados). Ah, sim,
não pode esquecer o blush também para enrubescer as bochechas.
*Não estou criticando o uso de maquiagem como um todo, mas há
diferentes estilos de maquiagem, os mais populares se assemelhando
demais à descrição acima.
Eu poderia descrever diversos cenários além desses que envolvem todo
tipo de estímulo sexual. A verdade é que vivemos numa sociedade machista
que valoriza a erotização visual. Como os homens são mais facilmente
estimulados pelos olhos (em comparação às mulheres), as repercussões no
dia a dia são inevitáveis. Apesar da Bíblia afirmar a regência do homem
tanto no ministério quanto no lar, o mundo vive e apresenta um modelo de
masculinidade corrupto e grotesco. O resultado é uma enorme pressão
sexual sobre todos, independente de gênero ou faixa etária. Assim que as
meninas começam a usar sutiã, começam a se arrumar “para arrumar um
namorado”. Basta passear no shopping numa sexta a noite ou acessar os
álbuns de facebook das jovens para ver as inúmeras caras de bocas em
frente ao espelho (com celular na mão e olhar “inocente” para a câmera).
A mesma coisa com os meninos. Mas nas suas fotos fazem cara de mal,
pose de machão e levantam a camiseta para mostrar o abdômen sarado.
Eles, coitados, chegam atrasado nessa disputa e enquanto elas já estão
fisicamente crescidas, eles ficam com a cara cheia de espinha e com a
voz falhando devido às mudanças. Os mais velhos, por sua vez, tentam se
vestir como garotão ou garotinha, proporcionando uma cena que beira o
ridículo.
No meio dessa cultura de uma saturação erótica absurda, como é que
alguém se vê livre de pensar “naquilo”? Os jovens se iniciam sexualmente
cada vez mais cedo. Casamentos são destruídos cada vez mais. Temos os
“eternos solteiros” que vivem de namoro em namoro sem achar o “par
perfeito”. Todo mundo está na academia, com tudo em pé e no lugar certo,
mas ninguém está feliz. Por quê? Porque tudo à nossa volta nos induz a
pensar em apenas uma coisa: sexo.
Na faculdade, fui tratado como alienígena em várias instâncias.
Adoravam conversar com o “crente” sobre sexo, para tentar me
envergonhar. Um amigo me perguntou como que era um namoro cristão, se
rolava “pegada”, uns beijos legais. Beijo, sim, mas nada que se
assemelhe ao que vemos na TV. Tudo de maneira respeitosa, tanto a ela
quanto a Deus. Amassos? Hum, não. Algo mais? Hum, também não. Ele me
olhou com uma cara de espanto incrível: “Cara, então você deve se
masturbar o dia inteiro! Como assim você chega nessa idade sem nunca ter
transado? Não dá vontade? Mas Deus não te deu essas vontades? Não é
natural isso, se ‘escravizar’ assim.” É ele que não consegue enxergar um
dia sem sexo ou masturbação e eu que sou o “escravo”. Interessante
isso…
Nossa
cultura escraviza o indivíduo com a noção de que ele tem que, a
qualquer preço, alcançar o seu prazer, seu clímax, seu orgasmo! O
estímulo e pressão são massacrantes. A ponto de muitos, na base do “eu
mereço”, sucumbirem a isso e dizimarem as suas vidas em busca de um
prazer constante e auto-destrutivo. Quantas vezes em algum filme não há
um personagem que está desesperado, há tanto tempo sem “uma boa
trepada”? Pior, quantas vezes, na vida real, o fato de chegar aos vinte e
poucos anos ainda virgem não é motivo de extrema vergonha e
constrangimento? Mulheres gastam horas e mais horas na academia botando
tudo no lugar, sem contar as horas em baixo da faca. Afinal, homem não
gosta de barriga flácida, pelanca, rugas ou seios pequenos. E os homens?
Também. Tem que ter peitoral, abdômen sarado, tem que “ter pegada”. No
final, conseguem apenas ficarem deprimidas por nunca estarem “a par” das
outras. Elas têm que estar com tudo em dia para não perder o marido,
né?
Quantas meninas de treze anos já não sonham com um implante de
silicone? Quantos moleques adolescentes já não gastam horas puxando
ferro pra ficar grande, isso quando não começam a tomar remédios para
acelerar o processo? E quantos deles vivem felizes? Pouquíssimos, se é
que haja algum. Mulheres de todas as idades vivem deprimidas com sérios
problemas de auto-estima por não seguirem o padrão sexual imposto. Temos
aí uma série de “mulheres fruta” de diversos formatos na mídia. O
problema é que mulher fruta só arruma homem banana! Pode ser forte,
saradão e tudo mais, mas no final das contas não vai saber tratar e
cuidar dela. Isso quando não partem para a agressão física e as surram.
Mas será que o crente não pensa em sexo? Deus não pensa nessas
coisas? Claro que pensa! Aliás, tem um livro inteiro na Bíblia dedicado a
isso. E as dicas de como isso funciona já começam nos subtítulos,
aquelas legendas inseridas ao longo dos anos. O Cântico dos cânticos é
uma canção e o formato já indica isso entre os versos e refrãos: esposo e
esposa. Há prazer no sexo, sim, num modelo de sexo saudável, na
segurança dos laços matrimoniais entre homem e mulher. Esse é o modelo
bíblico. É uma expressão de amor, não uma busca desvairada por prazer,
porque essa busca nunca termina!
O viciado em pornografia não se contenta com a mesma revista durante
anos a fim. A relação sexual entre pessoas, quando não tem uma expressão
de amor como fim, está sempre à procura de novidade. Já viu quantas
capas de revista tem uma matéria sobre “1,001 novas maneiras de
enlouquecer seu homem na cama”? Não é possível que depois de tantos anos
publicando mais dicas já não tenham descoberto tudo! Sempre tem mais
alguma novidade! E nessa busca, mesmo quando as opções convencionais
terminam, partem para outras opções pervertidas. Violência, chicotes,
algemas, asfixiação, troca de parceiros, sexo em lugares públicos, com
animais… e por aí vai. Precisam partir para todo e qualquer tipo de
perversão sexual já que o “sexo convencional” não tem mais graça. Alguns
chegam ao ponto onde, na falta de alguém que os satisfaça, partem para a
auto-satisfação e se masturbam até com o auxílio de brinquedos. E é
triste saber que chega ao ponto onde maridos preferem se resolver
sozinhos do que com a própria esposa, pois eles “dão conta do recado”
melhor que elas. Há até casos de pessoas que são viciadas em sexo e não
conseguem ficar sem se relacionar com alguém. E é uma patologia que
acaba com a vida da pessoa.
A cultura mundana do sexo é completamente depravada e sórdida. E o
pior, ela gera um comportamento egoísta e violento em torno dela. Não é
toa que antes de todo round de uma luta de UFC, primeiro tem que passar
uma mulher de biquíni com a plaquinha. Da mesma maneira, as maiores
ofensas, os maiores xingamentos são os de cunho sexual (e nas os citarei
aqui por razões óbvias). Na política, os assuntos mais calorosos são
justamente quem tem controle sobre a escolha sexual e o que fazer com o
nenêm se o sexo irresponsável gerar uma gravidez indesejada. Tudo gira
em torno de sexo! Vivemos em meio a uma cultura escravizada pelo prazer
sexual. Está na televisão, nas músicas, nas propagandas, na maquiagem,
na academia, nas lojas, nas roupas e por aí vai. A cultura do sexo está
impregnada na sociedade, e ela nunca se verá livre disso.
Sexo é bom? Óbvio que sim, pois Deus o fez. Deus criou algo tão
magnífico, algo tão sagrado e lindo que mesmo quando ele é gozado de
maneira ilícita e depravada, ainda assim dá prazer. O problema é que
nesse padrão, é um prazer pervertido, corrupto e auto-destrutivo pois
ele nunca se satisfaz. Aquilo que nos foi dado por Deus para ser uma
expressão lícita de amor ao cônjuge se torna um monstro depravado,
insaciável e avassalador. Mas temos dificuldade de enxergar a sua
presença no nodo cotidiano pois crescemos nessa cultura tão relativista
já anestesiados pelo pecado.
Centenas de milhões de pessoas vivem desesperadas e escravizadas pela
busca depravada do próprio prazer. Aos poucos se destroem em nome do
hedonismo sem saber do mal que trazem a si mesmos. Trocam a verdade pela
mentira, servem à criatura em vez de o Criador e vivem entregues às
suas paixões vergonhosas.
E eu, o alienígena, é que sou taxado como “escravo”. Seria cômico se não fosse trágico.
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Cuidado!
*OBSERVAÇÃO: Fui
informado que ao final do texto aparecem propagandas geradas
automaticamente pelo Google. Até hoje, eu desconhecia isso. Devido ao
conteúdo do texto de hoje me relataram que apareceu uma propaganda
pornográfica. Peço perdão a todos que tiverem que dar de cara com isso.
Ironicamente, é justamente por esse tipo de estímulo que escrevi o post.
Enfim, tentei modificar isso mas não tenho como fazê-lo. Desde conto
com a compreensão de todos e, mais uma vez, peço perdão por qualquer
constrangimento.
Na paz,
Andrew
https://oblogdoandrew.wordpress.com/2012/11/08/liberdade-sexual-e-a-escravidao-do-prazer/
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