A facilidade com que se obtém o divórcio atualmente, daí
resultando novos casamentos, está tendo repercussões em algumas igrejas
locais, particularmente no que diz respeito aos novos convertidos.
As opiniões sobre que atitude tomar vacilam entre um severo
legalismo e compaixão. Em alguns lugares, segundo me informam, existe
até receio de pregar o Evangelho a divorciados casados de novo, por
causa dos problemas que advirão caso se convertam!
Não queremos e nem podemos ditar normas sobre esse assunto,
mas apenas vamos procurar esclarecer o que aprendemos das Escrituras,
pois os trechos onde é tratado podem às vezes nos parecer conflitantes.
Brevemente, vejamos o que vem a ser casamento e divórcio:
-
Casamento: o Senhor Jesus, referindo-se à união do homem e da mulher em Gênesis 2:24, disse: “de modo que já não são mais dois, porém uma só carne”
(Mateus 19:6). O casamento dá origem a uma entidade única
composta de um homem e de uma mulher, que é o início de uma nova
família.
-
Divórcio: continuando, o Senhor Jesus disse: “o que Deus ajuntou, não o separe o homem”.
É um mandamento proibindo a separação do casal, sendo a
separação, portanto, um pecado diante de Deus, e o divórcio um
resultado desse pecado. O divórcio consiste em eliminar todos os
laços matrimoniais entre um casal, dentro de certas condições
determinadas por um juíz visando a proteção dos filhos, equidade
econômica, etc. Com o divórcio o casamento é desfeito e os que eram
cônjuges voltam a ser livres como antes de se casarem, fora as
obrigações do decreto de divórcio.
A ideia que o casamento é “indissolúvel” vem da tradição
católica romana, segundo a qual o casamento celebrado pelos seus
sacerdotes só pode ser dissolvido com a permissão do papa. A legislação
brasileira adotava essa “indissolubilidade” até recentemente.
O Senhor Jesus foi provocado a se pronunciar a respeito do
divórcio pelos religiosos judeus, porque a lei de Moisés previa a
possibilidade do marido emitir carta de divórcio à mulher se ele não se
agradasse dela (Deuteronômio 24:1-4). Encontramos seu ensino nas
seguintes passagens dos Evangelhos: Marcos 10:2-12 e Lucas 16:18.
A permissão de lavrar carta de divórcio e repudiar a mulher
foi dada na lei junto com a proibição de um segundo casamento entre os
dois, se houvesse outro casamento e divórcio por parte da mulher. O
Senhor Jesus declarou aos fariseus que a permissão fora dada por causa
da dureza dos seus corações, mas o homem não deve separar o que Deus
ajuntou.
Aos discípulos ele esclareceu que aquele, ou aquela, que
repudiar o seu cônjuge e casar outra vez comete adultério. Esses
trechos não contemplam o divórcio por causa de adultério: segundo a
lei, o cônjuge infiel que praticasse adultério seria apedrejado
(Deuteronômio 22:22-25); o outro cônjuge, enviuvado, poderia casar-se
novamente. Mateus 5:31-32 e 19:8-12: o Senhor Jesus exclui o repúdio
por imoralidade (gr. porneia) da proibição de novo casamento.
Imoralidade aqui pode significar adultério, infidelidade
durante o período de noivado (veja Mateus 1:19), ou casamento
consanguineo, entre parentes muito próximos (Levítico 18). Neste caso, o
divórcio é admitido. Como nos demais casos um novo casamento seria
adultério, os discípulos julgaram ser preferível não casar (19:10). O
Senhor retorquiu que alguns homens e mulheres não precisam se casar,
podem viver isolados. Isto não é para todos (1 Coríntios 7:2), mas uma
decisão individual.
Em resumo, qualquer divórcio (fora por motivo de
imoralidade) é o resultado de desobediência a Deus, e conduz ao
adultério. Estas declarações foram dirigidas aos judeus, esclarecendo o
que o Senhor Jesus, como Rei, determinava aos seus súditos.
O Seu reino terrestre, quando Ele regerá o povo com a vara
de ferro, virá brevemente, no Dia do Senhor. Se Ele reina em nossos
corações, fazemos bem em obedecê-lo também.
Pertencemos a uma nova congregação, a igreja de Cristo,
que, embora situada no mundo, não é do mundo. Os que a ela pertencemos
não estamos sujeitos à lei de Moisés, mas amamos a Deus e a Seu Filho, e
damos prova disto pelo amor que temos uns pelos outros (João 15:10,12,
Romanos 13:8-10).
A desobediência a Deus é característica do incrédulo, do
homem sem Deus, resultando em divórcio, assassínio, furto, falso
testemunho, etc. Não temos como impedi-lo: ao pecador perdido, esses
são muitos dos sintomas do seu pecado e o seu destino é a separação
eterna de Deus. A única coisa, e a mais importante, é pregar-lhe o
Evangelho da salvação em Cristo. Quando o pecador se arrepende e recebe
a Cristo como seu Senhor e Salvador, ele se torna em uma nova
criatura. Todo o seu pecado lhe é perdoado, mesmo que tenha resultado em
adultério, divórcio, assassínio, etc., tendo o sangue de Cristo pago o
preço da sua redenção.
Não há razão por que não seja batizado ou recebido com
dignidade pela igreja local na condição de um recém-nascido em comunhão
na igreja local, participando também da Ceia do Senhor. Quanto ao seu
ministério, o Espírito demonstrará se está habilitado através dos dons
que lhe serão outorgados. Não pode haver comunhão entre o salvo e o
mundo, assim como a luz não tem comunhão com as trevas, nem pode haver
união do crente com o incrédulo (2 Coríntios 6:14,15).
Tendo surgido por isto a dúvida sobre o casamento já
existente com um incrédulo e se o crente devia deixá-lo, como todas as
outras coisas, o apóstolo Paulo, dirigido pelo Espírito Santo declarou:
1 Coríntios 7:12-17: Quando Paulo diz “digo eu, não o Senhor”
ele introduz uma instrução nova, com a autoridade que tem de apóstolo,
dirigido pelo Espírito Santo). O ensino é que, ao se converter, uma
pessoa não deve deixar seu cônjuge se ele continuar incrédulo,
especialmente se tiverem filhos, pois estes podem ser levados a Cristo
pelo crente, e neste sentido são “santos”. O crente deve fazer o que
puder para levar seu cônjuge a Cristo, e, se depender dele, deve ficar
na situação em que se encontrava ao salvar-se: casado. Mas se o cônjuge
incrédulo resolver deixá-lo, o crente não mais estará “sujeito à
servidão”, pois fomos “chamados à paz”: o divórcio dissolve os laços
matrimoniais. Embora não esteja explícito, cabe o entendimento que,
sendo a parte inocente, o marido (ou mulher) crente que tiver sido
divorciado está livre para contrair novas núpcias pois, nas palavras de
Paulo “por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” (1 Coríntios 7:2).
“Cada um permaneça no estado em que foi chamado”
(1 Coríntios 7:17-24): não se justifica exigir de um novo convertido,
divorciado e casado em segundas núpcias antes de se converter, que
deixe a sua presente esposa e procure novamente casar-se com a
divorciada, como, segundo fui informado, já tem acontecido. Mesmo se
fosse legalmente possível, é raramente viável sem causar imensos
transtornos e infelicidade a todos. Posturas como essa estão mandando
almas preciosas para o inferno, pois muitos acabam não pregando o
Evangelho aos divorciados por “ser politicamente correto” perante a
igreja local, e o mais grave ainda é que um comportamento como esse
seria a mesma coisa que afirmar-se que o sacrifício de Cristo purifica
todos os pecados, menos o do divorciado incrédulo casado de novo.
A situação de um casal de crentes diante de Deus é tal que
parece impossível que venham a se divorciar: provamos a todos que Deus
permanece em nós pela prática do grande mandamento de Cristo, que nos
amemos uns aos outros (1 João 4:13); mais ainda, o marido deve amar a
sua esposa como Cristo amou a igreja, e a esposa deve ser submissa a
seu próprio marido, como ao Senhor (Efésios 5:22-33). A mulher crente
não deve se separar do marido, nem o marido crente da sua mulher (1
Coríntios 7:10-11), como o Senhor já havia dito aos judeus; se,
desobediente, a mulher (ou o marido, entendemos também) se separar, ela
não deve se casar outra vez, mas procurar uma reconciliação. Embora,
segundo o Senhor, a imoralidade seja um motivo legítimo para o divórcio,
o cônjuge cristão ofendido tem a oportunidade, se não o dever, de se
reconciliar com o cônjuge infiel se este confessar a sua ofensa e pedir
o seu perdão (Marcos 11:26), assim como Cristo nos perdoa todo o
pecado (1 João 1:9).
Infelizmente surgem situações em que um dos cônjuges,
supostamente crente, foge aos seus deveres e, desobediente a Deus, se
separa e depois obtém o divórcio. Por exemplo, se a esposa de um crente
se divorcia dele legalmente por qualquer motivo permitido pela lei
vigente no país, poderá ele se casar outra vez? Independentemente do
motivo legal, se houver imoralidade da mulher (e geralmente há), não
parece haver dúvida que sim, em função do ensinamento do Senhor. Mas
tal mulher, se for realmente crente e arrepender-se, ao que entendemos
não deverá se casar outra vez (1 Coríntios 7:11). Quem se declara crente
e se divorcia, está negando a sua fé. Outras situações ainda podem
surgir e devem ser estudadas cuidadosamente à luz da Bíblia, usando
sempre de misericórdia como é a vontade de Deus: “sede misericordiosos, como também é misericordioso o vosso Pai” (Lucas 6:36) , e “misericórdia quero, e não sacrifício” (Oséias 6:6).
O pecado é uma coisa terrível e, embora perdoado, em certos
casos deixa marcas e conseqüências que não se podem apagar. No caso do
divórcio, vidas arruinadas e pior ainda, crianças sem um lar com o
amor do pai e mãe, e todas as confusões que surgem com novos casamentos
e novos filhos, etc. Por melhor que queiramos, não podemos na maioria
das vezes consertar as situações surgidas. Mas podemos mostrar amor, “que cobre uma multidão de pecados”, para as vítimas deste pecado, que muito sofrem, particularmente se são a parte inocente e agora vivem vida nova em Cristo.
Talvez algum irmão encontre dificuldade em aceitar estes
argumentos, por convicções próprias ou outro motivo. Reconhecemos que
nem sempre todos vemos as coisas pelo mesmo prisma. O divórcio é um
golpe profundo, extremamente traumatizante à vítima e aos seus filhos e
familiares, do qual não se pode voltar para trás. Sejamos
misericordiosos aos irmãos que passaram por isto, vítimas do pecado e
da desobediência de outrem. Lembremo-nos da exortação: “de modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza”
(2 Coríntios 2:7-8). A compaixão de Deus se revelou quando Cristo
perdoou a mulher adúltera. Estaríamos nós entre os que a condenavam,
mas depois saíram porque também tinham pecado?
R David Jones
FONTE:
http://www.bible-facts.info/artigos/divorciocomnovocasamento.htm
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