– por Luciano Subirá
Muitos casais cristãos estão vivendo hoje fora daquilo que Deus idealizou. Brigas constantes, desrespeito mútuo e distância entre o casal, são vistos em muitos lares. E além da infelicidade que isto produz em seus corações, ainda há a questão do mal testemunho dado e da vida espiritual que é prejudicada. Penso que este é um assunto que merece nossa atenção, pois o princípio de viver em unidade é algo que não apenas produzirá maior realização emocional no relacionamento, como também liberará sobre o casal as bênçãos de Deus.
COMPREENDENDO A UNIDADE
É importante que consigamos visualizar o que a unidade do casal pode
produzir em suas vidas, e então seremos desafiados a preservá-la. Também
entenderemos porque o Diabo, o adversário de nossas almas, luta tanto
contra ela. Jesus nos ensinou que a unidade e concordância permite Deus
agir em nossas vidas:
“Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. (Mateus 18.19,20)
Por outro lado, a falta de unidade impede Deus de agir. A palavra de Deus nos mostra de modo bem claro que quando o marido “briga” com sua mulher, algo acontece também na dimensão espiritual:
“Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações”. (1 Pedro 3.7)
Ao deixar de honrar a mulher como vaso mais frágil e maltratá-la
(ainda que só verbalmente), o marido está trazendo um sério problema
sobre a vida espiritual do casal. A Bíblia diz que as orações serão
impedidas. É lógico que isto também vale para a mulher, embora quem mais
facilmente tropece nisto sejam os homens. O texto bíblico revela que
depois de desonrar a mulher na condição de vaso mais frágil (com
asperezas), o homem, mesmo que clame ao Senhor, terá sua oração
impedida, pois um princípio foi violado.
Deus não age em um ambiente de desarmonia e discordância. Isto é um
fato. Quando tentaram construir a torre de Babel, as Escrituras dizem
que Deus desceu para ver o que os homens faziam. E Deus mesmo, ao vê-los
trabalhando em harmonia e concordância de propósito declarou:
“Eis que o povo é um e todos têm uma só língua; e isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entenda um a língua do outro”. (Gênesis 11.6,7)
O que vemos aqui é que a unidade remove limites. Quando o casal se
torna um e fala uma só língua (sem discordância) eles removem os limites
diante de si! Deus pode agir livremente num ambiente destes, mas basta
perder a capacidade de falar a mesma língua que tudo se perde! No reino
de Deus, quando dois se unem, o efeito não é de soma, mas de
multiplicação. Moisés cantou acerca do exército de Israel: um deles
faria fugir a mil de seus inimigos, mas dois deles faria fugir dez mil!
(Dt 32.30).
A unidade ainda traz consigo outras virtudes. Podemos ver isto numa
das figuras bíblicas do Tabernáculo. O propiciatório da arca da aliança
figura este princípio. O Senhor disse que ali Ele viria para falar com
Moisés. O propiciatório (ou tampa da arca) era o lugar onde a glória e a
presença de divina se manifestava. E nas instruções para a confecção
desta peça, vemos o simbolismo da unidade. Deus disse que os dois
querubins deveriam ser uma só peça de ouro batido; com isto falava
simbolicamente de unidade entre seus adoradores (Ex 25.17-19). Os
querubins deviam estar com as asas estendidas um para o outro (Ex
25.20), o que fala de cobertura recíproca. A falta de unidade nos leva a
agir com o espírito de Caim que disse ao Senhor:
“Acaso sou eu guardador de meu irmão?” (Gn 4.9).
Mas quando estamos em unidade com alguém, cobrimos e protegemos esta pessoa! Esta é uma virtude que acompanha a unidade.
A outra, é a transparência. Os querubins deveriam estar um de frente
para o outro (Ex 25.20). Isto fala alegoricamente de poder encarar outro
adorador “olho no olho”. Fala de não ter nada escondido, de
não ter pendências. Ninguém consegue olhar (espontaneamente) no olho de
outra pessoa quando as coisas não estão bem. Quando Jacó fala para sua
família que as coisas já não estavam bem entre ele e Labão, seu sogro, a
expressão que ele usa é:
“vejo que o semblante de vosso pai já não é mais o mesmo para comigo” (Gn 31.5).
Jesus disse que os olhos são a candeia do corpo. Eles refletem o que
está dentro de nós. E a unidade é a capacidade de olhar olho no olho e
estar bem. Particularmente, eu não posso concordar com casais que
escondem coisas um do outro, seja no que diz respeito à sua vida passada
(erros e pecados) ou presente (como nas questões financeiras, por
exemplo).
Acredito que a unidade verdadeira exige que haja remoção ou acerto de “pendências” (Pv
28.13). Ás vezes fingimos um comportamento só para agradar (ou não
desagradar) ao outro, o que diverge do ensino bíblico. Este teatro não
produzirá unidade verdadeira. Temos que aprender a ser francos, como
está escrito:
“Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto”. (Provérbios 27.5)
Paulo censurou este tipo de comportamento dúbio quando escreveu aos
gálatas. Ele falou sobre como o apóstolo Pedro em certa ocasião agiu
assim para ser “diplomático” e que esta atitude conseguiu
atrair até mesmo o próprio Barnabé, companheiro de Paulo, e ele os
censurou publicamente (Gl 2.11-14).
Contudo, quero ressaltar que ser franco não significa ser grosseiro,
pois a Bíblia nos ensina a falar a verdade em amor. O conselho dado a
Timóteo na hora de corrigir os que opunham, foi o de usar de mansidão (2
Tm 2.25). A unidade manifesta a verdade (dolorosa às vezes) de forma
bem mansa.
O PRINCÍPIO DO ACORDO
A Bíblia nos ensina também que o acordo é indispensável num relacionamento:
“Como andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3.3)
A ausência de acordo é uma porta aberta para o diabo. Quando Paulo
escreveu aos efésios e falou sobre não dar lugar ao diabo, o fez dentro
de um contexto, que é o de pecados que acontecem nos relacionamentos:
“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo”. (Efésios 4.26,27)
Tiago escreveu sobre o mesmo princípio. Ele disse:
“Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins”. (Tiago 3.16)
Já mencionamos anteriormente que o acordo é uma porta aberta para
ação de Deus (Mt 18.19). Mas quando chegamos ao ponto de dissipa-lo de
nosso relacionamento, estamos comprometendo não só a qualidade da
satisfação na esfera emocional, mas também a esfera espiritual de nosso
lar. Não é fácil ajustar-se satisfatoriamente na relação conjugal. As
diferenças são muitas; na formação de cada um, na personalidade,
temperamento, e acrescente a isto as diferenças entre homem e mulher.
Contudo, quando aprendemos a ter como denominador comum o caráter e os
ensinos de Cristo, então conseguimos o ajuste por meio de ceder,
perdoar, recomeçar, etc. Mesmo um casal que parecia perfeitamente
ajustado em seu período de namoro e noivado descobrirá a necessidade de
mais ajustes à medida que os anos de casamento vão passando. Não é uma
tarefa tão fácil, mas não é impossível! Se não estivesse ao nosso
alcance, Deus estaria sendo injusto ao cobrar isto de nós… mas o fato é
que não só é algo possível, como também é uma chave poderosa na vida
cristã!
O CASAL DEVE DECIDIR JUNTO
Há uma ordem de governo e autoridade estabelecida por Deus no lar. O
marido é chamado o cabeça (Ef 5.22-24), e entendemos que como tal tem
direito à palavra final. Porém, isto não quer dizer que o homem esteja
sempre certo ou que não deva ouvir sua mulher. Encontramos no Velho
Testamento uma ocasião em que o próprio Senhor diz a Abraão, seu servo:
“Ouve Sara, tua mulher, em tudo o que ela te disser” (Gn 21.12).
No Novo Testamento vemos Pôncio Pilatos desprezando o conselho de sua mulher e se dando mal com isto (Mt 27.19).
Precisamos considerar ainda que ser líder não significa ser autoritário. Quando o apóstolo Pedro escreveu aos presbíteros (que compõem o governo da Igreja Local), disse em sua epístola que eles não deveriam ser “dominadores do povo” (1 Pe 5.3). Isto mostra que autoridade e autoritarismo são duas coisas distintas. Vejo muitos maridos dizerem que suas esposas TÊM que obedecê-los! Mas ao dizer que as esposas devem ser submissas, Deus não estava instituindo o autoritarismo no lar. Vale ainda lembrar que Jesus declarou que
“aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido” (Lc 12.48).
Os homens precisam se lembrar de que em matéria de responsabilidade
do lar, terão que responder a Deus numa medida maior que as mulheres.
Mas não é preciso que o homem carregue o peso desta responsabilidade
sozinho.
É importante que o casal dialogue e tome decisões juntos. Desde que
casamos, minha esposa e eu sabemos quem é o cabeça do lar, mas foram
muitas raras as vezes em que tomei uma decisão por mim mesmo. Sempre
conversamos e discutimos sobre nossas decisões. As vezes já estamos de
acordo no início da conversa, e às vezes precisamos de muita conversa
para amadurecer bem o que estamos discutindo. Mas sabemos a bênção de
caminhar em acordo e cultivamos isto entre nós. Entendo que se a mulher é
chamada de “auxiliadora” na Bíblia, é porque o homem precisa
de sua ajuda. E a ajuda da mulher não está limitada à atividades
domésticas. A Bíblia fala com esta figura, que deve haver uma relação de
companheirismo. Creio que como auxiliadora, a mulher deve ajudar a
tomar decisões.
Este é um processo que exige ajuste. Na hora de discutir alguma decisão, ou mesmo a forma de ser e se comportar de cada cônjuge, vemos o quanto é difícil ouvir ao outro. Mas devemos atentar para o ensino bíblico sobre isto:
“Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18.13).
Tiago nos adverte o seguinte:
“Sabeis estas cousas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”. (Tiago 1.19)
A verdade é que normalmente somos prontos para falar e irar-se um
contra o outro, mas tardios para dar ouvidos ao que o outro tem a dizer.
E isto precisa ser mudado em nós! Para que haja acordo, precisamos
aprender a ouvir.
TRATANDO COM DESENTENDIMENTOS
Os desentendimentos ocorrem, mesmo entre os crentes mais dedicados,
mas devem ser tratados logo. Lemos que alguém pode se irar e não pecar,
pois é uma reação emocional espontânea. Mas o que cada um faz com o
sentimento que teve pode se tornar pecado. Paulo aconselhou os irmãos de
Éfeso a que não deixassem o sol se pôr sobre sua ira (Ef 4.26,27).
Em outras palavras, que deveria haver acerto, perdão, e que nenhuma
pendência ficasse para trás. Precisamos aprender a tratar com os
desentendimentos no lar.
Preservar a unidade não significa nunca se desentender, mas saber dar a manutenção devida no relacionamento quando isto ocorrer.
O tempo não apaga as ofensas. Deve haver reconciliação. Jesus ensinou isto:
“Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”. (Mateus 5.23,24)
Alguns acham que depois de um desentendimento é só deixar “para lá”.
Mas a Bíblia nos ensina o princípio de reconciliação de maneira bem
formal. Deve haver pedido de desculpas, de perdão. Deve se conversar
sobre o que aconteceu (o quê machucou o íntimo de cada um e porquê
machucou). E não podemos perder de vista que devemos lutar para viver
sem brigas, e não só reconciliar quando elas ocorrem (Ef 4.31).
Acredito, ainda, que atenção especial deve ser dada à forma de falar.
Talvez esta seja uma das áreas que mais sensíveis sejam nos
desentendimentos que surgem no relacionamento, uma vez que a “comunicação” no
lar não é só o que um fala, mas também a forma que o outro entende! As
conversas não devem ser exaltadas ou em tom de briga. E quando um dos
cônjuges se perde numa explosão emocional, é importante notar que a
Bíblia não nos ensina a “jogar o mesmo jogo”. O que lemos nas Escrituras é justamente o contrário:
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”. (Provérbios 15.1)
“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um”. (Colossenses 4.6)
Os maridos devem ter cuidado redobrado, pois por natureza são mais
racionais do que emocionais e suas palavras tendem a ser mais duras e
grosseiras. Por isso a Bíblia nos adverte:
“Maridos, amai a vossas esposas, e não as trateis com aspereza”. (Colossenses 3.19)
“Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações”. (1 Pedro 3.7)
Embora seja verdadeiro e aplicável aqui o ditado de que “é melhor prevenir do que remediar”,
precisamos reconhecer que muitas vezes falhamos permitindo
desentendimentos que poderiam facilmente ser evitados. Neste caso,
devemos aprender a consertar e tratar com estas situações. Mas não
podemos esquecer também que mesmo havendo perdão e reconciliação depois
do erro, quando ele se repete muito vai gerando desgaste e descrédito, e
isto exige uma dimensão de restauração maior depois.
As intrigas no lar roubam o prazer de outras conquistas, como escreveu Salomão, pela inspiração do Espírito Santo:
“Melhor é um prato de hortaliça, onde há amor, do que o boi cevado e com ele o ódio”. (Provérbios 15.17)
“Melhor é um bocado seco, e tranqüilidade, do que a casa farta de carnes, e contenda”. (Provérbios 17.1)
“Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa”. (Provérbios 21.9)
Há casais que alcançaram tudo o que queriam financeiramente, mas não
conseguem viver bem juntos. Eles, melhor do que ninguém, podem afirmar
quão verdadeiras são estas declarações bíblicas. Não adianta ter outras
realizações e deixar o relacionamento conjugal se perder. Precisamos
aprender a cultivar a unidade em nosso relacionamento. E isto acontece
quando aprendemos a lidar de forma simples e prática nas questões do
dia-a-dia.
Que o Senhor nos ajude!
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.
http://www.orvalho.com/ministerio/estudos-biblicos/a-unidade-entre-o-casal/
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