sexta-feira, 6 de março de 2020

Qual é a Autoridade de um Marido Sobre sua Esposa?




Recebi uma pergunta de um membro da igreja, perguntando sobre a diferença entre complementarismo e igualitarismo em um casamento. Complementarismo é a visão de que maridos e esposas têm papéis complementares no casamento, que maridos devem amar as suas esposas e as esposas devem se submeter voluntariamente aos seus maridos em todas as coisas legítimas. Igualitarismo é a visão de que maridos e esposas têm autoridade igual em um casamento e devem se submeter um ao outro igualmente e da mesma maneira.


Essa tem se tornado uma questão controversa por várias razões. Nos últimos anos, houve um aumento na conscientização sobre o abuso conjugal. Isso levou muitas pessoas a concluir que todas as “diferenças de poder” no casamento tornam o abuso inevitável. Cada vez mais, vivemos em uma cultura igualitária que valoriza o indivíduo acima de tudo, insistindo que cada indivíduo deve ser igual a todos os outros indivíduos. A teoria crítica, ou marxismo cultural, vê o mundo inteiro através das lentes dos “oprimidos” e “do opressor”. No marxismo cultural, o opressor é quem tem poder e os oprimidos são os que não têm poder. A solução para a opressão, nessa visão, é colocar os que não têm poder no poder. Portanto, qualquer visão que diga: “esposas, sujeitem-se aos seus maridos” (Colossenses 3:18) é considerada opressora.

Porém, Deus criou homens e mulheres igualmente à Sua imagem, o que significa que eles têm o mesmo valor. Porém, embora tenham o mesmo valor, homens e mulheres também são diferentes. Deus ordenou o casamento como a instituição na qual um homem e uma mulher formam uma aliança de companheirismo para a glória de Deus, que também é a estrutura divinamente sancionada para gerar, nutrir e criar filhos. Deus sabe como homens e mulheres funcionam melhor em relação um ao outro no casamento, e Ele sabe que arranjo é mais adequado para gerar e criar filhos. E se Deus diz que os maridos devem amar, servir e liderar as suas esposas, e as esposas devem amar, servir e se submeter aos seus próprios maridos no Senhor, então reverter isso ou mudá-lo é realmente abusar da outra pessoa no casamento.

Efésios 5:22-24 afirma: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos”.
Em tudo isso, acredito que uma pergunta que precisa de definição cuidadosa é: “Qual é a autoridade do marido sobre a esposa?”. 

1. Um marido não tem autoridade para solicitar à esposa que viole a lei de Deus.

Uma esposa não pode se submeter ao marido se ele lhe disser para desobedecer à lei de Deus. Os apóstolos disseram: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. Atos 5:29” (Atos 5:29). Isso se aplica a violações óbvias da lei de Deus, como mentir, roubar, assassinar etc.

Mas os maridos também devem tomar cuidado para não privar as suas esposas da liberdade cristã. A liberdade cristã é uma aplicação do Primeiro Mandamento, no qual Deus diz: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3). Liberdade cristã significa “onde não há lei também não há transgressão” (Romanos 4:15). Em outras palavras, a lei de Deus é o padrão suficiente de justiça, e o pecado é definido como uma violação da lei de Deus (não da lei do homem, por si só). Deus concede aos cristãos a liberdade sob Sua lei de fazer o que eles pensam ser sábio, uma vez que tiveram suas consciências esclarecidas, moldadas por Sua boa Palavra. Às vezes, um marido precisa fazer um julgamento em uma área em que sua esposa não concorda com ele, mas nunca deve se tornar a consciência de sua esposa ou pedir a ela que faça coisas que violem a consciência dela. Quando um marido priva a sua esposa da liberdade cristã, ele está usurpando a autoridade de Deus. 

2. Um marido cresce no uso sábio de sua autoridade, estudando diligentemente a Palavra de Deus.


Um marido só pode ser um líder habilidoso, se for um estudante diligente da Palavra de Deus. O Senhor ordenou que todo rei de Israel “lerá todos os dias da sua vida” a Sua lei (Deuteronômio 17:19). Deus disse a Josué, o grande líder de Israel: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito” (Josué 1:8). Se um marido não estuda a boa Palavra de Deus para aprender mais sobre o Senhor Jesus, ele não terá o conhecimento ou a habilidade para liderar fielmente a sua esposa, e toda a sua família sofrerá.

Não há atalhos aqui. Maridos, vocês precisam aprender toda a Palavra de Deus. Isso significa que vocês precisam aprender a ler e entender as Escrituras corretamente. Para ser um marido sábio, vocês precisam aprender como a Bíblia se harmoniza em termos de sua estrutura pactual com Cristo no centro e a distinção e o relacionamento entre a Lei e o Evangelho, para que possam agir de acordo com a estrutura da própria Bíblia em sua liderança. Ao aprender as Escrituras, vocês verão como tudo aponta para Jesus, e que toda a sabedoria para a liderança está nEle.

Também recomendo o estudo das confissões e catecismos reformados, como auxílio à compreensão das Escrituras. As confissões fornecem um resumo da doutrina bíblica, que pode ajudá-los enquanto leem a Palavra de Deus. Como batista reformado, recomendo particularmente a Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 e o Catecismo Batista. Se vocês se tornarem fielmente mais e mais semelhantes a Cristo e obedecerem aos ensinamentos de Sua liderança, se tornarão sábios (Hebreus 5:14). Então, sua esposa e toda a sua família serão abençoados por estarem sob a sua autoridade. 

3. O marido deve exercer a sua autoridade como alguém que vive uma vida humilde, amorosa e piedosa.


Antes que o marido possa liderar os outros, ele precisa aprender a liderar a si mesmo. Como ele pode administrar o seu lar, se ele não consegue administrar a si mesmo? Os maridos, portanto, devem sentar-se aos pés do Senhor Jesus e aprender com Ele. Eles precisam aprender como as correntes de pecado se arrastam em seus próprios corações, para que possam mortificá-los pela graça. Eles precisam aprender como aplicar Cristo a si mesmos, crescer em comunhão e se tornarem mais parecidos com Ele.

Os maridos devem falar muito sobre Cristo para as suas esposas e ministrar o Evangelho a elas. Quando as suas esposas ficam desencorajadas, então devem lembrá-las das promessas muito preciosas de Cristo. Devem sempre procurar refletir o amor e a bondade de Cristo em tudo o que fazem, perdoando como foram perdoados e amando como foram amados.

Os maridos precisam se arrepender sinceramente dos seus pecados. Os maridos devem ser conhecidos em seus lares pelo arrependimento gracioso e verdadeiro. Eles devem liderar a confissão do pecado, humildemente pedindo perdão e crescendo em obediência à boa lei de Deus. Os maridos devem ser líderes ao se submeterem à liderança de Cristo e viverem sob a Sua autoridade.

Os maridos devem coabitar com suas esposas “com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco” (1 Pedro 3:7). Eles nunca podem liderar com um espírito orgulhoso e dominador, mas apenas com grande respeito, amor, humildade, graça e sabedoria. 


4. Um marido deve exercer autoridade sobre a sua esposa por meio do serviço.


Jesus ensina que todos os cristãos com autoridade, incluindo maridos, devem ser líderes servos. Ele disse: “Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:25-28).

O objetivo da autoridade de um marido é o bem de sua esposa, de acordo a definição de “bem” encontrada na Palavra de Deus. Tudo o que o marido faz para liderar e administrar o seu lar deve ter como objetivo servir em primeiro lugar a sua esposa, e depois os seus filhos, para a glória de Deus, e nunca para sua própria glória. Ele nunca deve usar a sua autoridade para servir a si mesmo. Somente um marido egoísta e opressivo usa a sua autoridade para o seu próprio benefício.

Dessa maneira, o marido dá um exemplo de amor. Um marido crente lidera pelo exemplo. Quando uma esposa crente vê o marido servindo a Cristo, amando os outros e vivendo para a glória de Deus, ela desejará segui-lo. Ele nem precisa pedir que ela o siga. Ela verá o seu exemplo de serviço e desejará segui-lo porque respeita o que ele está fazendo.

Mais do que isso, porém, quando um marido usa fielmente a sua autoridade para o bem de sua esposa, e sua esposa se beneficia com isso, uma esposa piedosa se torna cada vez mais convencida de sua sabedoria. Quanto mais ela crê que o seu marido é sábio, mais inclinada ela será a confiar nele. Considere a relação entre um médico e um paciente. Como o médico exerce autoridade sobre o seu paciente? Não é por poder ou lei. Um médico tem autoridade sobre o seu paciente porque sabe o que é sábio para tratar a sua doença. O médico atende o paciente e acredita que ele é capaz de faze-lhe o bem. Portanto, quando o médico prescreve uma receita, o paciente a segue porque acredita que o seu médico está lhe servindo. É assim que a liderança servil age. 


5. Um marido pode exercer autoridade sobre a sua esposa direcionando e recompensando.

Deus diz às esposas que elas devem se submeter aos maridos “em tudo” (Efésios 5:24). Isso significa que Deus dá aos maridos a autoridade para administrar todo o lar. E eles têm autoridade para direcionar ou dar ordens às suas esposas para essa finalidade. Quando um marido direciona a sua esposa, isso nunca deve acontecer porque ele busca beneficiar disso de modo egoísta, mas apenas para o bem de sua esposa, por amor a ela, pelo bem do lar como um todo e pela glória de Deus. Pode haver momentos em que uma esposa não goste ou não concorde com a orientação do marido, mas se ele não estiver pedindo que ela peque, ela deve se submeter a ele. A discussão a seguir sobre direcionamento e recompensa vem principalmente do puritano, William Whately, por meio de Joel Beeke e James A. Labell em Living in a Godly Marriage [Vivendo em um Casamento Piedoso].

Direcionando. Whately diz que um marido apenas raramente direciona ou dá ordens à sua esposa. Ele escreveu: “Uma peça de roupa que um homem veste todos os dias em breve ficará esfarrapada; a autoridade de um homem será desgastada com o uso excessivo. Portanto, mantenha-a guardada até que as ocasiões oportunas a exijam”. Na grande maioria das vezes, os maridos não precisam dar qualquer direcionamento para as suas esposas.

Mas os maridos precisam se lembrar de duas coisas ao direcionar as suas esposas.

Primeiro, Deus lhe deu a sua esposa para ser sua auxiliadora. Portanto, você não deve controlá-la nas coisas mínimas. Se você está gerenciando a sua esposa nas coisas mínimas, está fazendo o trabalho dela por ela. Qual o sentido de ter uma auxiliadora, se você vai controlá-la como um robô? Antes, você deve permitir que ela use os seus dons e habilidades para servir da maneira que o Senhor a fez. Delegue e permita que ela realize seu trabalho à sua maneira. Você não faria as coisas do mesmo jeito, porque ela não é você, e isso é algo bom. Buscar direcionar a sua esposa nos mínimos detalhes também retira da sua esposa a liberdade e viola o Primeiro Mandamento. Isso está errado.

Segundo, quando você dá instruções, deve levar em consideração o temperamento e as facilidades de sua esposa. As pessoas são diferentes e têm capacidades diferentes; então, você precisa pensar em como Deus fez a sua esposa e ter cuidado para não a sobrecarregar. Torne suas instruções para ela as mais suaves possíveis.

Recompensando. Recompensar envolve duas coisas: primeiro, elogiar; segundo, corrigir.

Primeiro, você deve elogiar sua esposa com frequência. Esforce-se para perceber quando ela faz boas obras que honram o Senhor. Provérbios 31 diz que o marido da mulher a louva por suas boas obras (28-29). Ela só pode saber que você aprova o que ela está fazendo, se você contar a ela. Você deve elogiá-la calorosamente, com amor e carinho em seu coração, jamais com frieza.

Segundo, você precisa corrigir a sua esposa quando ela pecar. Agora, é verdade que o amor encobre uma multidão de pecados (1 Pedro 4:8). E é uma glória para o homem passar por cima de uma ofensa (Provérbios 19:11). Você sempre deve ignorar peculiaridades e ofensas mínimas.

Porém, um marido crente não deixará a sua esposa em seu pecado. Se o pecado de uma esposa cria uma barreira no casamento, se é um pecado flagrante, se é o pecado que está causando ativamente dano, ou se é um pecado recorrente, o marido é responsável por confrontá-lo. Isso inclui o pecado de se recusar a se submeter ao marido (Colossenses 3:18-19). Mateus 18:15 afirma: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão”. “Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada”, diz Mateus 18:17. E se ele ainda não escuta, Mateus 18:17 afirma: “dize-o à igreja”. Esse é o padrão que os maridos devem usar ao confrontar as suas esposas. 


6. Um marido nunca pode forçar, coagir, intimidar ou manipular a sua esposa para que se submeta à sua autoridade.

Quando os maridos falam com as suas esposas, devem evitar toda a dureza e severidade. Devem sempre unir a sua autoridade à mansidão, humildade e amor. Às vezes, uma esposa resiste à autoridade do marido e ele tenta impor a sua autoridade gritando, usando palavras duras e pecaminosas, batendo portas etc. Alguns pecaminosamente usam táticas frias de manipulação, culpas falsas, brigas constantes etc. Mas todos esses são pecados terríveis. Eles são uma forma de abuso conjugal.

A esposa responderá melhor quando o marido a abordar com humildade, amor, gentileza e paciência. Se ela não responder, o marido deve confrontá-la como falamos acima. E se ela ainda não responder, ele pode obter ajuda externa de seus pastores e da igreja. Mas ele pode nunca tentar coagir a submissão de sua esposa.

Se um marido pecar dessa maneira contra a esposa, ela deve garantir que esteja segura, precisa conversar com alguém que a ajude e faça-o prestar contas. Idealmente, ela poderia procurar seus pastores e procurar ajuda deles e da igreja. Se um marido bater em sua esposa ou agredi-la, ela deve entrar em contato com as autoridades porque ele cometeu um crime. Uma esposa nunca deve se submeter a abusos. Ela deve fugir do abuso e obter ajuda de autoridades externas. 


Conclusão

A Bíblia ensina que há uma ordem no lar. O igualitarismo é um ídolo cultural e contrário às Escrituras. O autoritarismo é um pecado opressivo, proibido pela Palavra de Deus. Os maridos devem amar as suas esposas e liderá-las como servos, exercendo autoridade no amor. As esposas devem se submeter aos seus maridos em tudo que for legítimo. Essa é a estrutura que Deus estabeleceu no lar para o bem dos maridos e esposas e para o florescimento das crianças e da sociedade como um todo.




Título original: Benjamin Keach on Justification — Via: Ask Pastor Tom Hicks • Traduzido e publicado com permissão • Tradução: Camila Rebeca • Revisão: William Teixeira.
Sobre o autor

Tom Hicks
Tom é o pastor sênior da Primeira Igreja Batista de Clinton, em Los Angeles. É casado com Joy e tem quatro filhos: Sophie, Karlie, Rebekah e David. Ele recebeu seu mestrado e doutorado no Seminário Teológico Batista do Sul, com especialização em História da Igreja, ênfase em batistas e com especialização em teologia sistemática. Tom é o autor de A Doutrina da Justificação nas Teologias de Richard Baxter e Benjamin Keach (Ph.D. diss, SBTS). Ele faz parte do conselho de diretores da Founders Ministries e é o administrador do Founders Blog. Também faz parte do conselho de administração do Seminário Teológico Batista do Pacto e é professor adjunto de teologia histórica do Institute of Reformed Baptist Studies.
 
 

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