
“A mulher cristã verdadeiramente convertida tem maiores chances de obter satisfação sexual, do que a que não é cristã.” [1]
Ao ler estas palavras muitas mulheres cristãs se sentem num entroncamento paradoxal. Aquelas que pensavam ser convertidas, por não terem uma vida sexual feliz, podem passar a questionar sua religiosidade. Por outro lado as que têm uma vida sexual satisfatória podem dar saltos de alegria, porque provavelmente sua vida religiosa vai muito bem obrigada. Seja lá qual for a explicação, relacionar sexualidade com religião sempre foi polêmico.
Uma pesquisa recente [2] aponta para outra direção, revelando que entre um grupo de mulheres evangélicas do RJ o quadro de dificuldades sexuais é muitas vezes igual ou superior ao restante do público. Os resultados indicaram que cerca de 10% das mulheres apresentam quadros típicos disfuncionais. Existem aquelas que têm dificuldades na questão do desejo sexual (10%), outras apresentam dificuldades no momento de manter a excitação (6,3%) e algumas não vivenciam o orgasmo (14,5%). Se levarmos também em conta àquelas que revelaram sentir freqüentemente dor na relação (8%) e algumas que não conseguem a penetração (4%), teremos fortes indicativos de disfunções. A presença da culpa e ansiedade indica vivências conflituosas, comprometedoras da saúde sexual, possivelmente refletindo na baixa qualidade de vida sexual de um bom número delas.
A natureza dos conflitos sexuais
De acordo com Kaplan (1977)[3], de um modo geral existe um entendimento consensual, de que a maioria das dificuldades e conflitos sexuais entre os casais sejam criadas por fatores experienciais. Sobre a natureza destes fatores existem muitas controvérsias, que, dependendo do entendimento teórico podem ser vistos de variadas maneiras em sua base etiológica psíquica.
A Teoria Psicanalítica defende que o conflito inconsciente proveniente das experiências traumáticas da infância ocasiona as crises e disfunções sexuais. Outro ponto de vista é sustentado pela Teoria da Aprendizagem a partir de modelos de comportamento. A identificação é explicada a partir de princípios básicos de condicionamentos, imitações e modelagens. Quando o comportamento ocorre, a criança é reforçada ao responder adequadamente ao modelo, por desejar afetivamente ser semelhante ao modelo, ou porque ela observa um outro indivíduo ser reforçado ao emitir comportamentos desejados. A vivencia do contexto sexual na família seria o fator principal. Por outro lado, a Teoria do Desenvolvimento Cognitivo sugere que a criança passa por certos estágios de desenvolvimento, e a aprendizagem dependerá desses estágios. Kolberg apud Oliveira[4] diz que: No que diz respeito ao papel sexual, esses esquemas que ligam os eventos incluem conceitos sobre o corpo, sobre o mundo físico e social, e categorias gerais de relacionamento. (p. 16)
Determinantes Psicológicos das Disfunções Sexuais
É importante que reconheçamos que fatores etiológicos subjacentes às dificuldades sexuais, geralmente apresentam-se sob forma de conflitos de ordem psicológica advindos de experiências traumáticas ou de estruturas de formação repressoras à sexualidade. Tais componentes interferem diretamente no momento da experiência sexual, ora funcionando como inibidor da experiência erótica, ora na dificuldade de eliminação temporária de certo grau de controle e contato com o ambiente, comum no ato sexual.
Causas de disfunções sexuais
Algumas causas psicológicas podem ser entendidas como imediatas, ocorrem no contexto da experiência sexual, ou como impedimento da experiência erótica ou como falha no desempenho sexual. Os indivíduos geralmente apresentam altos níveis de ansiedade e defesas psíquicas contra os sentimentos sexuais. Algumas respostas insatisfatórias são fruto de ignorância sexual, geralmente oriunda de uma educação repressora. Alguns medos (de rejeição, de desempenho, insatisfação do parceiro) podem surgir por ocasião do afloramento de todo processo de excitação sexual. Sentimentos: como culpa e ansiedade, podem refletir lutas e esquivas inconscientes.
Algumas mulheres são tomadas de conflitos e sentimento de culpa sobre os desejos e necessidades eróticas que desencorajam os parceiros no processo de estimulação erótica. Por outro lado a tensão sexual pode ser a grande fonte geradora de ansiedade provocada pelo desejo erótico. Tais desejos podem chocar-se com pensamentos proibidos advindos da formação do indivíduo. A ortodoxia religiosa age muitas vezes na construção deste “programa” de censura e defesas cognitivas. No ato sexual as funções autônomas precisam permanecer livres do controle consciente para que se desenvolvam naturalmente (Kaplan).
A importância da Comunicação do Casal
A ocorrência de falha na comunicação do casal em comunicar francamente os sentimentos e experiências sexuais, geralmente ligados ao nível de confiança desenvolvidos entre os dois, potencializa as dificuldades, sendo importante fator na etiologia das disfunções sexuais.
Interferência da Religião
Villa (2002)[5] destaca que a religião acaba exercendo uma forte influência sobre o relacionamento conjugal, inclusive limitando o repertório de habilidades interpessoais, produzindo regras inibitórias no contexto da relação sexual, algumas destas ligadas a esquemas de punições e reforço. Kaplan (1977) comenta que infelizmente nossa sociedade compara sexo e pecado. Por esse motivo, toda a manifestação do desejo de prazer sexual de uma pessoa está sujeita a ser negada, ignorada e tratada como coisa vergonhosa e em geral incessantemente atormentada por conseqüências e associações aflitivas, sobre tudo no período da formação moral - a infância. Daí ao mesmo tempo em que o intenso prazer da sexualidade demonstra ser a força poderosa e onipresente na existência humana, é também facilmente associada ao medo e sentimento de culpa, imobilizadores da boa resposta sexual.
Kaplan faz a seguinte colocação: A equação sexualidade-imoralidade está profundamente entranhada em nossa cultura. O jovem aprende, desde a infância, que é maravilhoso andar, falar, pintar, que ele é bom menino quando come suas refeições ou dorme o seu sono, mas que os seus impulsos sexuais não são aceitáveis. Ensinam-lhe a negar a sua sexualidade, a dissociar este aspecto de si mesmo, que manifestar os desejos sexuais é perigoso, obsceno, hostil, indecente, nojento e imoral, sobretudo se seu lar for religioso.(p.151)
Alienação Sexual
O processo de alienação sexual começa desde os primeiros anos de vida. As manifestações sexuais são sistematicamente seguidas de desaprovação, castigo e recusa. Estas contingências negativas das primeiras manifestações sexuais resultam na repressão dos impulsos sexuais, instauração de conflitos destrutivos, sentimento de culpa e frieza sexual. Este processo em nossa cultura é ainda muito mais severo com as mulheres, geralmente vítimas de processo de educação altamente repressora e machista.
O Ideal Bíblico
Está claro que a partir do texto bíblico o desejo de Deus para a humanidade é de felicidade, inclusive sexual. Também está claro, que seus princípios de vida favorecem a felicidade do casal. Em toda a Bíblia vamos encontrar citação direta de valorização ao amor conjugal, aí se incluindo o sexo. O que percebemos que com o passar dos anos as reinterpretações bíblicas pelas diversas religiões cristãs têm favorecido a infelicidade sexual de muitas mulheres e homens. O padrão ortodoxo e repressor de alguns discursos religiosos, permeados por atitudes machistas conservadoras, sem dúvida ainda é uma grande barreira a ser quebrada no meio cristão.
[1] VAN PELT, N. Felizes no Amor Casa Publicadora Brasileira, 2003, SP pág. 148.
[2] NASCIMENTO, Virgilio Gomes. Norma e transgressão da sexualidade: uma pesquisa acerca dos transtornos sexuais femininos e conflitos entre atitudes e comportamento sexual num grupo de mulheres evangélicas do Grande Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Mestrado em Sexologia da Universidade Gama filho, 2005. Dissertação de Mestrado
[3] Kaplan, A nova terapia do sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1977.
[4] OLIVEIRA, L.S. Masculinidade, feminilidade, androginia, Rio de Janeiro, Achiamé, 1983..
[5] VILLA, M.B. e DEL PRETTE, Z.A., Habilidades sociais conjugais em casais de diferentes filiações religiosas, Ribeirão Preto, USP, 2002, Dissertação de Mestrado
O Ideal Bíblico
Está claro que a partir do texto bíblico o desejo de Deus para a humanidade é de felicidade, inclusive sexual. Também está claro, que seus princípios de vida favorecem a felicidade do casal. Em toda a Bíblia vamos encontrar citação direta de valorização ao amor conjugal, aí se incluindo o sexo. O que percebemos que com o passar dos anos as reinterpretações bíblicas pelas diversas religiões cristãs têm favorecido a infelicidade sexual de muitas mulheres e homens. O padrão ortodoxo e repressor de alguns discursos religiosos, permeados por atitudes machistas conservadoras, sem dúvida ainda é uma grande barreira a ser quebrada no meio cristão.
[1] VAN PELT, N. Felizes no Amor Casa Publicadora Brasileira, 2003, SP pág. 148.
[2] NASCIMENTO, Virgilio Gomes. Norma e transgressão da sexualidade: uma pesquisa acerca dos transtornos sexuais femininos e conflitos entre atitudes e comportamento sexual num grupo de mulheres evangélicas do Grande Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Mestrado em Sexologia da Universidade Gama filho, 2005. Dissertação de Mestrado
[3] Kaplan, A nova terapia do sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1977.
[4] OLIVEIRA, L.S. Masculinidade, feminilidade, androginia, Rio de Janeiro, Achiamé, 1983..
[5] VILLA, M.B. e DEL PRETTE, Z.A., Habilidades sociais conjugais em casais de diferentes filiações religiosas, Ribeirão Preto, USP, 2002, Dissertação de Mestrado
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