A missão destinada aos pais de "ensinar a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará (Provérbios 22-6)" é um dos grandes desafios daqueles que possuem filhos na adolescência. É nesta época que surgem os conflitos e os questionamentos. Pais e filhos acham difícil manter aquela comunhão, carinho e proximidade que havia durante a infância, especialmente sem atingir a individualidade de cada um. A questão é pertinente e nos leva a refletir sobre quem se afasta de quem, o filho ou a família? E ainda, como mantê-los na igreja?
A pedagoga, psicanalista e especialista em Terapia Familiar, Leila
Silva Moreira, membro da Igreja Evangélica Batista, chama a atenção para
a triste realidade comum em seu consultório, onde muitos adolescentes
reclamam que os pais não sabem nada de suas vidas, pois simplesmente não
se interessam. "A situação acaba se tornando motivo para fazerem coisas
erradas, pois se acham independentes. E acabam se rebelando contra os
pais em busca desta independência. Se envolvem com grupos alternativos
da sociedade e se deixam levar pelos costumes da turma. Vários consomem
drogas, álcool, e alguns não estão nem aí para as coisas de Deus, mas
entendem no fundo que a situação deveria ser diferente", explica Leila.
A omissão dos pais é considerada por Leila como um erro gravíssimo,
no qual muitos deles, mesmo evangélicos, estão fracassando. A
psicanalista destaca que filhos precisam de supervisão, e cada família
deve achar o seu estilo de educação, pois pais irresponsáveis, sem
compromisso firme com Deus, ausentes ou displicentes, têm gerado
conflitos na cabeça dos adolescentes.
"Não educamos uma só vez, e sim o tempo todo. Até hoje educo os meus
filhos de 27, outro de 25, e a mais nova de 16. Quando estou com eles,
eu e meu esposo, Dimas, damos sempre conselhos. Todos os pais são
especiais. Mas os de adolescentes, precisam se aproximar do filho,
apóia-lo e mostrar que o ama e se preocupa. Devem pedir a Deus sabedoria
para ensinar, sem autoritarismos, mas de forma amigável e com amor.
Cada fase do desenvolvimento da criança tem suas demandas específicas,
exigindo um tipo de atividade diferente de educação", esclarece.
A mestre em Psicologia Simone Pylro, da Igreja Presbiteriana de Vila
Velha, destaca que, apesar de terem um papel importante neste processo,
sabe-se que os pais não são os únicos a influenciar o desenvolvimento do
filho. Para Simone, é preciso ter a correta dimensão das
responsabilidades que os pais ou responsáveis têm sobre a criança ou
adolescente; mas, ao mesmo tempo, ter cuidado com os malefícios que a
"culpa" pode gerar.
"Os pais não vão acertar sempre. Quando há espaço para o perdão, o
diálogo franco e honesto, os filhos construirão valores que levarão para
toda a vida. Não há ‘receitas' para se criar filhos. Eles têm
necessidades diferentes e relacionam-se com os pais de modos distintos. É
preciso considerar o que é possível para cada um. Mais importante que
ficar monitorando os filhos é cultivar um relacionamento que promova a
construção de autonomia. E é este o ponto fundamental", destaca ela.
Adolescentes fora de casa
Os pais também têm que estar preparados para entender o projeto de
vida dos filhos, mesmo que este seja longe deles. O adolescente Leomar
Loureiro Júnior, 16, que deixou a cidade de Barra Mansa, Rio de Janeiro,
em busca de trabalho e estudo no Espírito Santo, reconhece estar longe
dos caminhos de Deus. Ele diz que a mãe deseja que ele retorne ao meio
cristão. "Há um ano estou afastado. Já visitei algumas igrejas, mas
nenhuma me tocou, por causa das doutrinas. Sei que não é motivo pra
ficar longe. Mas, apesar de tudo, ainda bem que os meus pais entenderam o
meu projeto".
Chris Reynaud, 17, está morando com o avô, pastor da Igreja Batista
de Novo México. Para ela, mesmo à distância, os laços permanecem. "Minha
mãe está em Laranjeiras. Mesmo longe, conto tudo para ela, que sempre
participa de minhas decisões. O nosso único conflito acontece quando eu
deixo as atividades da igreja para ir a festas de amigos de fora do meio
cristão. Mas, no final, ela entende".
Camila Esteves, 14, diz que a base cristã ajuda muito na hora de
tomar decisões. Filha de pais separados, ela escolheu freqüentar outra
igreja, em vez da escolhida pela mãe. "Meu relacionamento com minha mãe é
maduro, apesar da minha idade. Mesmo estando em igrejas diferentes,
somos amigas. Ela me respeita e me entende. Na igreja, tenho apenas um
amigo, minhas amizades são todas de fora do meio cristão. Mas a base
cristã me ajuda muito. Sou diferença no meio deles, acredito".
Base cristã como escudo protetor
Com a chegada da adolescência "a proximidade da infância, com a troca
de carinho e muito contato físico, vai ficando só no desejo da mãe.
Especialmente em público! Adolescente abraçado ou de mão dada com a mãe
diante dos amigos, ‘paga mico'". Esta é a realidade da violinista
regente da Igreja Batista da Praia do Canto, Alda Coutinho Leandro, mãe
de três rapazes com idades de 16, 15 e 7. "Filhos sempre copiam as
atitudes dos pais. Por isto a base cristã, o bom caráter dos pais,
torna-se imprescindível na formação. Meus adolescentes são críticos até
demais! Por isto são firmes nas escolhas e abominam o que não concordam.
São tímidos, mas não se deixam intimidar. Creio que é na adolescência
que esta base faz a diferença. Converso com eles sobre muitos assuntos,
exceto ‘garotas'. Eles me ensinam informática e futebol e eu lhes ensino
que ninguém vive só neste mundo, precisamos uns dos outros,
especialmente da família. Procuro sempre demonstrar em atos e palavras o
amor que sinto por eles e que, antes de mim ou do pai, Deus já os amava
muito".
O presbítero da Igreja do Evangelho Pleno em Jardim Camburi, José
Maria, diz que educação cristã ensinada desde cedo é gratificante.
"Tenho filhos, um de 17 e outro de 21. Desde pequenos eles foram
ensinados com autoridade e amor. Orientá-los desde novos é gratificante.
Hoje tenho filhos obedientes que são meus amigos", destaca.
O casal Rayth e Dilermando Pereira, da Primeira Igreja Batista da
Praia da Costa, conta que a educação com base cristã não desaparece,
pois a família é projeto de Deus. Dilermando observa que após 23 anos de
casado e com três filhos (20, 18 e 14), a educação impositiva não leva a
lugar nenhum, e a conscientização ainda é o melhor caminho. "Pela nossa
experiência, eu e minha esposa passamos a ter mais cuidado com as
nossas palavras e atitudes. Ficamos mais tolerantes, porém nossos filhos
ficaram mais responsabilizados. Nós os orientamos todos os dias. Se
percebemos deslizes, damos uma saída e conversamos sobre o assunto.
Procuramos manter práticas como pedir a bênção, fazer o culto doméstico e
orar. Entendo que uma educação fundamentada na conscientização e no
exercício bíblico se torna um escudo protetor que lhes dá segurança para
fazer as melhores escolhas".
"Pastores não podem inverter o papel da igreja e do lar"
O ministro de jovens da Igreja Evangélica Batista, Deivisson Brito,
que lida com diversos perfis de adolescentes e jovens, criados de
maneiras diferentes, lembra que "pastores e líderes não podem inverter o
papel da igreja e o do lar, pois a formação do caráter da pessoa
acontecerá dentro de um lar bem consolidado, onde os fundamentos se
encontram na Rocha, e não na areia". O pastor cita também a passagem de
Deuteronômio 6:6. "Estas palavras que, hoje, te ordeno, estarão no teu
coração; tu as inculcarás em teus filhos, e delas falarás assentado em
tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te...".
Segundo Deivisson, Deus está dando uma ordem muito clara aos pais: de
educarem os seus filhos não somente falando, mas através de ações. "O
que Deus está querendo dizer com isto? Que o ensinamento não deve ser
apenas em um determinado momento, mas que os pais precisam ensinar aos
seus filhos com as suas próprias vidas, sendo referência para eles",
reforça.
O ministro sustenta que o trabalho de um pastor de mocidade não pode
se limitar apenas aos jovens, pois a raiz do problema quase sempre se
encontra nos pais, que não têm dedicado tempo para os filhos. "Vivemos
em uma sociedade onde muitos andam ‘mascarados', e temos muitos cristãos
dentro de clínicas de psicólogos e de psicanalistas, além da quantidade
de escândalos envolvendo igrejas e pastores nos dias de hoje". Para
ele, a igreja tem crescido quantitativamente, "mas, na questão da ética,
a igreja está em declínio, pois o verdadeiro arrependimento e conversão
a Deus serão vistos na restauração dos relacionamentos familiares entre
filhos e pais (Ml 3:6). Os pais devem lembrar-se que as atitudes dos
seus filhos são um reflexo do que eles aprendem dentro de casa. O maior
ensinamento de Jesus não foi proferido no monte ou no vale, mais sim
demonstrado com sua própria vida!", finaliza Deivisson.
Os erros mais comuns dos pais
Matéria publicada em maio de 2007, na edição nº 117 da Revista Comunhão- Não conhecer bem amigos dos filhos; muitos, se precisarem localizá-los de última hora, não possuem ao menos telefones.
- Não conhecer as famílias dos colegas dos filhos
- Não levar os filhos às festinhas; muitos não se preocupam como irão ou virão.
- Não fiscalizar os conteúdos da internet
- Não procurar ajuda quando necessário
http://www.comunhao.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=4314:filhos-adolescentes-como-evitar-que-se-afastem?&Itemid=107
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