domingo, 30 de novembro de 2014

A Submissão da mulher à luz da Bíblia e o uso equivocado do termo

 

Embora eu discorde de alguns pontos defendidos por Saul Brandalise Jr. em seu artigo publicado na internet, destaco aqui o significado que ele traz da palavra submissão. Ele diz: "A etimologia da palavra ? em seu sentido original - é "estar abaixo da missão" de outra pessoa.". E, ressalta que não se pode confundir etimologia com significado. Segundo ele, em escritos antigos [como a Bíblia, por exemplo] ser submisso tem o significado de estar debaixo da missão, que era como ele esclarece, o sentido da palavra submissão na época em que os relatos bíblicos foram escritos. E ele chama a atenção para o fato de que o significado mudou, tendo a ver em nossos dias apenas com obediência inquestionável.

Percebe-se que há em nossos dias um uso equivocado do sentido da palavra "submissão" e em especial quando se trata da submissão da mulher ao seu esposo. E, para entendermos o porquê desse equívoco, é preciso que façamos as seguintes considerações:

1. À luz do relato bíblico a mulher foi criada por Deus para ser adjutora do homem. Por sua vez, o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa dá à palavra adjutor o seguinte significado: "Aquele que ajuda ou adjutora; ajudante." E, esse significado não é contrário ao sentido que a palavra adjutora tem na Bíblia;

2. A Bíblia faz analogia entre a submissão da mulher ao seu esposo e a submissão da Igreja [corpo] a Cristo [cabeça]. E, acerca disto, assim diz o apóstolo Paulo em sua carta aos cristãos da cidade de Éfeso:
As mulheres sejam submissas a seus maridos como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo. [Efésios 5:22-24].
3. Se, porém, partirmos da premissa que a submissão da esposa ao seu cônjuge significa que ela tenha que está constantemente disposta a fazer a vontade do marido, ainda que esta vontade vá contra os seus próprios desejos e interesses resultando em renúncia diária, então a relação marido/esposa que analogicamente corresponde à relação que Cristo tem e deseja ter com sua Igreja, realmente precisa ser alvo de grande reflexão entre os cristãos; e isto se dá justamente em razão dessa analogia que a Bíblia faz. E, uma vez que o apóstolo Paulo diz que o marido deve tratar a esposa como à sua própria carne, é imprescindível que à luz da Bíblia nos perguntemos:

3.1 Em seu dia-a-dia, os maridos cristãos têm tratado suas esposas como à sua própria carne?

3.2 Alguém em sã consciência faz algum mal à sua própria carne? Traindo? Humilhando? Coagindo? Desrespeitando? Magoando? Ferindo?

Por outro lado, à luz da Bíblia a relação que Cristo deseja ter com sua Igreja não é uma relação do manda quem pode e obedece quem tem juízo, e sim, uma relação de amor em que a submissão seja consequência da certeza de que tudo o que Cristo faz visa o bem de sua Igreja e isso nos dá o parâmetro de qual deve ser a relação marido/esposa à luz da bíblia. Contudo, um parâmetro que não se restringe à esposa em relação ao marido, mas inclusive dele em relação a ela.

Como diz Dostoievski, o poder de Deus é interno e não é coercivo. E, segundo o autor do livro aos hebreus, Cristo é a expressa imagem de Deus! Isto significa que Ele nos revela o caráter de Deus! Por conseguinte, a relação de Cristo com sua Igreja também nos revela o caráter de Deus! E assim, uma vez que a Bíblia faz analogia entre o casamento e a relação de Deus com seu povo, a conclusão que podemos chegar é a de que o caráter de Deus deve ser a marca da relação marido/mulher; ou seja, não se trata de uma relação do manda quem pode e obedece quem tem juízo; e sim, uma relação de amor em que a submissão da esposa ao seu marido possa encontrar respaldo na certeza de que ele saberá trata-la como à sua própria carne.
Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa. [Eclesiastes 4:9-12].
Note que o texto acima denota uma relação em que impera o companheirismo entre o casal. O fato é que o uso equivocado do significado de submissão da mulher ao seu esposo tem sido a causa do fim de muitos casamentos cristãos, isto por que, uma relação onde um dos cônjuges sempre se anula em prol do outro, estará sempre fadada ao fracasso, tendo como resultado um divórcio que mais cedo ou mais tarde poderá acontecer, quando a outra parte perceber não ser mais possível permanecer num relacionamento que envolva tanta anulação de si mesmo. Infelizmente, o que se vê, é que essa submissão tem sido interpretada como se significasse que a mulher, não pudesse ter opinião própria e, muito menos se posicionar frente a ela.

Porém, não podemos nos esquecer que Deus nos chama a um relacionamento que envolve renúncia de nosso próprio eu; mas também, devemos ter em mente o fato de que Deus não anula em nós aquilo nos torna peculiar em nossa individualidade. A renúncia a qual todos nós [homens e mulheres] somos convidados não envolve tal aniquilação do eu. E sim, a mudança onde ela realmente precisa acontecer. Abraão, Moisés, Pedro e, Paulo tiveram suas vidas transformadas, mas não tiveram suas peculiaridades como indivíduos modificadas. Embora impactados pela experiência pessoal com Deus, suas características como indivíduos foram mantidas.

E, diante disso, considerando a analogia que a bíblia faz do casamento com a relação que Deus deseja ter com o seu povo, a conclusão que se pode chegar é a de que a submissão da mulher ao marido no casamento também não envolve aniquilação daquilo que a define em sua individualidade. Até por que, se traçarmos o perfil de mulheres na Bíblia veremos que Deus não buscou mudar em nenhuma delas aquilo que lhes é peculiar como indivíduos que são. E assim, nem todas as mulheres são como Sara, nem todas são como Ester e nem todas são Débora.

Eu encerraria por aqui este artigo, porém, torna-se inevitável abordar dentro deste assunto "submissão da mulher", a indagação que se faz sobre ela poder ou não ensinar. E é acerca disto que passaremos a tratar agora.

Em sua carta a Timóteo, Paulo deu a seguinte orientação:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação. [I Timóteo 2:9-15].
Em sua carta aos corintos, ele diz:
As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E se querem ser instruídas sobre algum ponto, interroguem em casa os seus maridos, porque é vergonhoso para uma mulher o falar na igreja. [1 Coríntios 14:34-35].
A meu ver, o uso de textos como esses dois que acabo de mencionar, para defender a tese de que a mulher não deve ensinar nas igrejas é equivocado! E, por certo, à primeira vista, afirmar ser isto um equívoco soe bastante estranho ao leitor. Mas não é! E, para entendermos melhor isto, será preciso abrir um parêntese para entrarmos na questão de usos e costumes na Bíblia, a fim de mostrarmos como Deus age na quebra de paradigmas.

Exemplo 1: Nos tempos de Rebeca, o véu era tido como sinal de virgindade [Gênesis 24: 61 a 67 ? para uma melhor compressão do texto talvez seja preciso uma leitura de todo o capítulo] ;

Exemplo 2: Nos tempos de Tamar, o véu era tido como sinal de prostituição, por esta razão Judá, em certa ocasião, não a reconhecendo, pensou ser ela uma prostituta por que quando a viu ela se cobria com véu [Gênesis 38];

Exemplo 3: Nos tempos de Rebeca era comum que as mulheres usassem adereços e, por esta razão, Abraão mandou que seu servo lhe levasse jóias de presente [um pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as suas mãos, do peso de dez siclos de ouro];

Exemplo 4: No período Neo-Testamentário, segundo historiadores que retratam esse período, era comum entre as prostitutas o uso de cabelos curtos, motivo pelo qual, para que as mulheres cristãs não fossem confundidas com as prostitutas, foi-lhes recomendado não cortar os cabelos. Às novas convertidas de cabelos curtos, coube a orientação de cobrir-se com o véu. Note que nesse contexto, o véu que à época de Tamar foi tido como sinal de prostituição, volta a ser símbolo de pureza como o foi nos tempos de Rebeca.

É simples entendermos essa orientação de Paulo às mulheres cristãs do primeiro século da igreja, pois, uma vez que naquela época havia essa associação do cabelo curto com as prostitutas. Da mesma forma que hoje se uma mulher ainda que não seja cristã se vestir como uma prostituta geralmente se veste, corre o risco de ser confundida como uma prostituta; e da mesma forma, como um rapaz que se veste como um "avião" de ponto de drogas corre o risco de ser confundido como sendo um "avião". "Fugi da aparência do mal", dizem as Escrituras.

Um outro fator importante a ser considerado é a postura de Jesus em relação às mulheres, percebe-se em sua postura Ele dando os primeiros passos na quebra de determinados paradigmas, afinal:

- Foi a uma mulher que Ele se revelou como sendo o Messias esperado e a ela enviou para anunciar as boas novas aos seus conterrâneos [o encontro de Jesus com a mulher samaritana conforme relato que se vê no livro de João capítulo 4];

- A primeira aparição do Cristo ressurreto foi para as mulheres, e não, para os discípulos. E, coube a elas anunciar aos discípulos o fato de que Cristo havia ressuscitado;

Uma vez que à luz da Bíblia, os dons e talentos são irrevogáveis e provém de Deus, se usarmos de franqueza com o fato de que é inegável que muitas mulheres têm dons e talentos, como, por exemplo: o dom de ensinar, então, fica claro perceber que Deus, por meio de Jesus, visou a quebra também desse paradigma, embora na mentalidade de alguns seguidores de Cristo, como por exemplo, o apóstolo Paulo, tal conclusão não pudesse na ocasião ser tão facilmente compreendida; "Não permito", disse ele. Mas, vale lembrar que o próprio apóstolo Paulo, em sua carta aos corintos, admite que Deus distribui os dons e talentos como quer para a edificação do corpo [Igreja].

Um outro exemplo de quebra de paradigma está no relato da conversão de Cornélio, em que justamente o apóstolo Pedro, foi escolhido para lhe transmitir as boas novas do Evangelho. À luz da Bíblia, pode-se afirmar que Deus possibilita a quebra de paradigmas no homem de forma lenta e de dentro pra fora.

É, contudo, inegável que a Bíblia nos mostra a mulher como adjutora do homem e, isto este artigo não nega! Todavia, ser o cabeça da família dar ao homem mais responsabilidade do que prestígio propriamente dito. A responsabilidade de expressar no seu convívio familiar o caráter de Deus como marca de um relacionamento saudável.

Este artigo expressa tão somente o repúdio desta autora ao uso equivocado do termo "submissão".

Eu, Jeane Kátia dos Santos Silva, sou a autora do livro "O Filho de Deus à luz das Sagradas Escrituras" e estou em busca de uma editora que queira apostar neste sonho. 
 


Fonte: 
http://www.webartigosos.com/articles/70396/1/A-Submissao-da-mulher-a-luz-da-Biblia-e-o-uso-equivocado-do-termo/pagina1.html

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