sábado, 16 de setembro de 2017

Uma ajuda para quem aconselha casais (e outras pessoas)


Imagem relacionada

Por Jônatas Abdias
 

O conselho que tenho para dar aqui é: pense além dos textos sobre casamento.

As pessoas sustentam uma visão muito superficial do que seja aconselhar biblicamente, se por aconselhar casais você entende aplicar, ainda que corretamente, os textos sobre casamentos encontrados na bíblia, ao problema que o casal está enfrentando. Ainda que isso venha a acontecer, confinar o aconselhamento de casais à isso é reduzir em muito a ajuda que podemos dar ao casal que precisa dos direcionamentos preciosos que Deus nos dá na Palavra, mas estão em outros contextos espalhados pelas suas páginas. Este reducionismo pode ser expresso das mais variadas formas, e por alguns é até justificado. Mas quem faz assim não está fazendo um uso apropriado da Bíblia.

A dificuldade principal, se podemos colocar assim, vem por conta da Bíblia não ser um compêndio temático de problemas humanos com as respectivas respostas divinas, como se pudéssemos, ainda que através de seu complicado índice, achar o problema, que estaria registrado lá, seguido da solução. Justamente por ser esta uma configuração aparentemente mais fácil, podemos imaginar que tenha sido uma das razões para o atual Manual que lista todos os alegados problemas humanos tratáveis pelos profissionais da área de ajuda. Aqui é difícil não generalizar, mas não me restam outras alternativas, peço a gentileza da generosidade do leitor.

Continuando... Creio que haja muita gente bem-intencionada querendo ajudar, com uma aproximação limitada como essa. Você deve estar consciente, desde já, que agir assim é, no mínimo, ser superficial. Por que? Porque pensar biblicamente sobre um problema matrimonial envolve muito mais do que somente levar em consideração somente os textos nos quais o casamento parece ser o foco principal. Pensar biblicamente é dar ao seu sistema de pensamento limites conceituais que nascem de um correto entendimento da Palavra de Deus, entendida em seus apropriados contextos, mas entendida principalmente como a fidedigna revelação de um Deus que nos ama e se importa conosco, ao ponto de fazer registrar não somente as soluções para nossos probleminhas vivenciais, mas na medida que o faz, estar registrando a história da nossa redenção que foi consumada em Cristo na cruz, e é aplicada em nós pelo Espírito Santo.

A beleza de enxergarmos o amor de Deus revelado nas Escrituras vai além do conteúdo. Esta visão deve alcançar a beleza da forma como Deus fez registrar sua revelação especial. Ao fazê-lo como fez, ele não somente nos deu frias soluções de problemas, mas revelou-se a si mesmo. Sim! Em primeiro lugar, o que temos é Deus descortinando seu caráter e seu plano para nós. Aos poucos e amorosamente, Deus foi se fazendo conhecer de um modo que não ficássemos sobrecarregados dele, mas pudéssemos ver claramente sua sabedoria, amor, poder e graça, dentre outras muitas qualidades, sendo não só admitidos pela mente, pelo entendimento, mas experimentadas na vida, na experiência pessoal e comunitária.

Isso nos leva a considerar o outro benefício decorrente do formato de Deus nos ter dado a Escritura como fez. Deus nos deu histórias. Ele mostrou na vida real, de pessoas reais, com problemas reais e iguais aos nossos que sua vontade é a melhor, seu querer é soberano, seu amor é preferível... Que não podemos viver à parte dele. Deus aqueceu cada solução no calor da discussão, mas trouxe pronto refrigério, para que soubéssemos que, quando fôssemos nós a passar pela prova, saberíamos que outros tiveram êxito por que contavam com a mesma excelsa companhia (Deus-Conosco).

Quando nosso campo de visão é aumentado por essa percepção, tomamos consciência de que Pedro realmente tinha razão ao afirmar que já nos fora dado tudo o de que precisamos para viver esta vida piedosamente (2 Pe 1.3). Mas não falta quem sustente a ideia de que se a Bíblia não falou especificamente sobre o problema, então ela não tem nada a dizer sobre o problema.

Portanto, aprenda a fazer uso correto da Escritura no aconselhamento:

1. Quando o problema é tratado diretamente na Bíblia, ela funciona como um preciso mapa. Se houvesse como um GPS para nunca errar, não seria ótimo? Já inventaram um. Seu inventor é Deus, e seu nome é Bíblia. Este divino GPS, quando trata de um problema diretamente é um mapa de precisão nanométrica. Assim, Deus nos guia inequivocamente. Mas nem sempre temos um texto que trata diretamente do nosso problema. Creio que a maioria das pessoas sabe usar (ou saberia usar) a Palavra de Deus quanto há orientações diretas. Mas quando elas faltam? Aí entram os curiosos dizendo que a Escritura nada tem a dizer sobre o tema... O que fazer? Vá para o tópico seguinte.

2. Muitas vezes a Bíblia trata do tema indiretamente. Nesses casos, ela funciona mais como uma proteção, uma certa que delimita claramente os limites da ação cristã. Mesmo que indiretamente, as implicações de uma certa lei, ou de uma certa doutrina se encaixam perfeitamente ao tema. Fique atento para ouvir mais do que está sendo dito, quando estiver ouvindo uma exposição bíblica fiel. Isso resolve até certo ponto, pois a capacidade humana de criar problemas difíceis, unido ao fato de que esse vive num mundo suficientemente complicado, trazem problemas que vão além de orientações diretas e indiretas. Como lidar com a vida de modo agradável a Deus quando não houver instruções, nem diretas, nem indiretas, sobre o problema específico que passamos, ou sobre as dúvidas que nutrimos?

3. Caminhando sobre a fé de que temos na Palavra de Deus tudo de que precisamos, nossos solhos se abrem para o fato de que temos mais na Palavra. Podemos não ter orientações, mas sempre teremos direções gerais. A Bíblia foi forjada na vida, não num ideal imaginário. Vivemos versões modificadas do que todos antes de nós viveram, mas muito dificilmente experimentamos algo realmente inédito (como já dizia o sábio em Eclesiastes, afirmando que nada há de novo debaixo do sol: Ec 1.9). O que fazer com orientações gerais? Eles te servem como um "norte", como em uma bússola. Quando estamos perdidos, e não sabemos como chegar ao local de destino, qualquer ajuda serve. E como é bom quando, mesmo que a orientação não seja tão precisa, sabemos que a saída é "por ali"! Para muitas situações na vida, Deus não dá orientações diretas, pois sabe que Ele mesmo nos deu discernimento suficiente para sair da enrascada que estamos, somente com a seta no "Norte" da sua vontade. Em situações com direcionamentos gerais, a Bíblia funciona como uma infalível bússola.

4. Mas digamos que a Escritura nada fale sobre o tema. Sim, digamos que ela não nos forneça qualquer instrução. Poderia a Escritura, ainda assim, me ser útil em meu problema, dilema, dúvida ou questão? Eu acredito que sim, pois ainda em tais casos extremos, Deus continua jogando luz para o nosso caminho, a fim de não tropeçarmos. Se há horas em que nos sentimos como que barcos perdidos num imenso e revolto mar, desistir não é uma opção para o marinheiro que sabe que, cedo ou tarde, a luz insistente de um longínquo farol haverá de furar as trevas da tempestade, fornecendo uma direção segura.

Olhe além, e você sempre enxergará utilidade na Palavra de Deus. Aconselhe usando "todo o conselho" de Deus, e os casais que estão sob seus cuidados obterão melhor proveito do aconselhamento, ao passo que também aprenderão a ver além dos textos básico, para o todo de uma Revelação que revela mais do que podemos ver.


http://aconselhandocombiblia.blogspot.com.br/2015/10/uma-ajuda-para-quem-aconselha-casais-e.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário