segunda-feira, 4 de junho de 2018

Como você pode viver sem sexo?

 
Imagem relacionada


Como a nossa sociedade tornou possível para a vida humana começar sem sexo, temos visto ser cada vez mais impossível desfrutar de uma vida humana sem sexo.

A premissa básica de comédias de Hollywood como O Virgem de 40 Anos e 40 Dias e 40 Noites demonstram isso. O primeiro filme narra as tentativas cada vez mais desesperadas de um homem tentando fazer sexo pela primeira vez. O segundo mostra um homem lutando para conseguir ficar sem sexo por 40 dias e 40 noites. Assim, para muitos hoje, ficar por cerca de 40 dias e 40 noites sem sexo – ou permanecer virgem até os 40 anos, ou ficar uma vida inteira sem sexo –, é algo totalmente implausível, até cômico.

Todavia, esse é o chamado inexorável de Deus para todo cristão que permanece solteiro – incluindo um virgem de 40 anos de idade, como eu. O julgamento que recebo (e posso sentir) como resultado é muitas vezes esmagador. Às vezes, a ideia soa como se eu não fosse completamente humano simplesmente porque ainda não experimentei um direito humano tão básico como a relação sexual.
No entanto, como observa Thomas Schmidt: “É apenas uma aberração de nossa própria geração infeliz para equiparar a ausência de gratificação sexual com a ausência de plena personalidade, a negação do ser ou a privação de alegria”.

As gerações anteriores tinham atitudes diferentes em relação ao celibato. Os solteiros que costumavam sustentar a maioria das instituições britânicas, e as solteironas dedicadas que passavam a vida cuidando de parentes idosos, costumavam ser admiradas, e não deploráveis. Contudo, estas pessoas hoje são ridicularizadas e evitadas, e falar de celibato ou castidade produz os risos que as conversas sobre sexo costumavam fazer. Como Christopher Ash pergunta: “Quando vimos pela última vez um filme de sucesso que retratou um solteirão ou solteirona feliz?” Eu nunca vi. E, tragicamente, a igreja pode se tornar tão obcecada por sexo quanto à sociedade em torno dela.

Como o mundo idolatra o sexo em quase todos os contextos, por muitas vezes a igreja o idolatra dentro do casamento. Alguns crentes se apressam em se casar aos 20 anos para poderem fazer sexo. O perigo é descobrir que o desejo é quase tudo que eles têm em comum com a pessoa com quem agora se comprometeram para a vida toda. O casamento precoce tornou-se a “salvação” para os cristãos que lutam contra a tentação sexual, deixando muitos perplexos ao descobrir que a tentação ainda permanece quando eles retornam de sua lua de mel.

Correção de Curso 

Em resposta, a igreja precisa ignorar as risadinhas e começar a reabilitar os conceitos de celibato (ou unicidade) e castidade (ou autocontrole sexual). Precisamos articular os benefícios de uma vida celibatária para alguns e encorajar a castidade para todos. Ou, em outras palavras, precisamos começar a ler nossas Bíblias novamente.

É difícil ver como as Escrituras poderiam ser mais positivas sobre a vida celibatária. Seu personagem central, Jesus Cristo, era solteiro e ainda é considerado o único humano perfeito da história. Em Jesus você enxerga a vida perfeita – e a dele era uma vida humana sem sexo.

Evidentemente, há o exemplo e o ensinamento do apóstolo Paulo sobre isso. Ele teria sido capaz de fazer suas viagens missionárias se tivesse uma esposa para cuidar? Ele teria sido um pastor e mentor tão eficaz para os jovens líderes da igreja se ele tivesse uma família jovem? Ele expressa claramente em 1 Coríntios 7 os benefícios singulares do evangelho de sua vida celibatária, e é hora de começarmos a promover um pensamento semelhante em nossas igrejas hoje.

Precisamos ler Jesus e Paulo quando se trata do assunto castidade. O elevado padrão de autocontrole sexual de Jesus não poderia ser mais claro em Mateus 5, e Paulo encoraja as igrejas em cidades onde a castidade era tão pouco valorizada quanto em muitos lugares hoje em dia. Todos os cristãos devem ser sexualmente autocontrolados. A importância disso – tanto fora quanto dentro do casamento – deve ser enfatizada em um mundo no qual somos tipicamente encorajados a seguir nossos sentimentos.

Sexualidade e Autocontrole 

Também precisamos nos lembrar de que podemos valorizar nossa sexualidade tanto pelo autocontrole quanto pelo intercurso sexual. O amor não é apenas transmitido pelo sexo que teve, mas também pelo sexo que não se teve. Isso é verdade para a esposa que diz não aos avanços sexuais de um colega no trabalho, por amor a Deus e ao marido. É verdade que a mulher atraída pelo mesmo sexo deixa de ter relações com sua parceira do mesmo sexo depois de se tornar cristã, por causa de seu novo amor por Jesus. Também é verdade sobre o homem que é atraído pelo mesmo sexo que permanece virgem até o dia da sua morte, também por amor a Deus.

O poder de nossos sentimentos sexuais pode, surpreendentemente, ser mais valorizado quando são mais dolorosamente experimentados. Como John Piper nos lembra: “A razão última (e não a única) por que somos sexuais é para tornar Deus mais profundamente conhecível. A linguagem e as imagens da sexualidade são as mais gráficas e poderosas que a Bíblia usa para descrever a relação entre Deus e o seu povo – tanto positivamente (quando somos fiéis) quanto negativamente (quando não somos)”. É o amor passional de Deus para com o seu povo – tão apaixonado e que é descrito em termos sexuais – registrado em passagens como Ezequiel 16, que mais profundamente demonstra o amor de Deus por mim.

A vida sem sexo para um cristão nunca deve envolver uma repressão doentia ou a negação de sua sexualidade; qualquer tentativa de agir assim não existe. A sexualidade é um dom dado por Deus para ser valorizado e expresso nas formas que ele delineou. Isso significa sexo para alguns e nenhum para outros; ambas são formas diferentes de apreciar uma parte incrível do que é ser humano, feito à imagem de Deus.

Intimidade sem sexo 

Mas a ausência de sexo não exige uma vida solitária sem amigos e filhos para compartilhar? Todos os seres humanos anseiam por relações íntimas e de auto-entrega aos outros, e uma vida sem sexo parece negar a satisfação dessa necessidade básica.

Tal pensamento – muito comum em igrejas onde a família pode ser o único foco de atenção – não é bíblico. Em nossas Bíblias, a amizade é sobre autorrevelação e autossacrifício (ver Davi e Jônatas e o livro de Provérbios), e a família da igreja é o foco central da comunidade do Novo Testamento, não mãe, pai e filhos. Tim Chester é provocativo, mas correto, quando escreve: “Recentemente, eu choquei algumas pessoas, quando pedi que citassem uma ocasião em que Jesus falou positivamente sobre as famílias. Sempre que Jesus fala sobre famílias, ele as vê competindo por lealdade a ele e sua igreja”. Leia o final de Mateus 12 se você não acredita nele.

Portanto, quando uma pessoa rejeita o sexo, ela não está condenada a uma vida vazia de intimidade e repleta de solidão. A solidão nunca estará totalmente ausente (não está ausente nos casamentos mais bem sucedidos e nas famílias), mas a intimidade pode estar presente em amizades próximas e na família da igreja. Barry Danylak sustenta, com razão, que “a solidão cristã não é uma negação do princípio subjacente de Gênesis 2:18, de que não é bom estar só. Nem Jesus nem Paulo, como homens solteiros, eram desprovidos de relacionamentos; pelo contrário, seus relacionamentos floresceram, tanto em número quanto em profundidade, pela liberdade e flexibilidade que a solidão lhes proporcionava.

Como homem solteiro, talvez eu não aprecie a intimidade sexual com ninguém, mas desconfio que muitas vezes desfruto de uma intimidade mais apropriada com pessoas do que a maioria dos meus amigos casados; às vezes eles têm um déficit maior de intimidade. Lauren Winner registra incisivamente o comentário de um amigo: “Deitada na cama à noite, ao lado de alguém que você prometeu amar e não há como superar o abismo entre vocês. Essa é a solidão mais esmagadora de todas”.

Eu não poderia estar melhor vivendo a vida sem sexo depois de tudo isso.


Autor: Ed Shaw
Fonte: The Gospel Colation
Tradução: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21

Nenhum comentário:

Postar um comentário